Quem acompanha os textos semanais desta coluna certamente já deve ter notado que eu não sou muito simpático com ônibus fabricados com motores dianteiros. No último texto que escrevi aqui neste espaço, cheguei a comemorar o lançamento dos chassis OF-1721L/59 e OF-1724L/59 da montadora alemã Mercedes-Benz, pelo fato deles serem equipados com suspensão pneumática, sistema que eu defendo amplamente.
Mas minha antipatia ainda existe. Por quê? Talvez a minha maior crítica seja a pouca acessibilidade que esse tipo de configuração oferece. É tecnicamente impossível construir um ônibus de motor dianteiro com piso totalmente plano. O que vemos hoje nas ruas são ônibus altos onde pessoas de baixa estatura, idosos, gestantes e demais pessoas com dificuldade de locomoção têm grande dificuldade em subir e descer as escadas desses ônibus.
Outra crítica que tenho é quanto à proximidade do motor do posto de trabalho do motorista. Quando o ônibus é novo, consegue ser silencioso e passar pouco calor para o motorista, mas com o passar dos anos, aliado a manutenções deficientes, em alguns casos, o ruído, o calor e a vibração vão prejudicando pouco a pouco a saúde dos motoristas.
E esses chassis, em sua maioria, vêm equipados com suspensão metálica. Dependendo da calibração esse sistema consegue ser relativamente confortável, mas o chassi de motor dianteiro mais vendido do Brasil antes de entrar em vigor o Proconve P7, por exemplo, conseguia ser incrivelmente áspero com os passageiros. Bom para o empresário, péssimo para o cliente.
Embora defenda as demais configurações, principalmente a do tipo Low Entry, não posso deixar de reconhecer os méritos dos ônibus de motor dianteiro. Ora, num Brasil dos anos 60 e 70 era impensável operar com ônibus mais refinados. Nossas estradas eram terríveis e exigiam veículos muito robustos, vide Kombis, Rurais e nosso eterno Fusca.
Tendo em vista esse contexto, o empresário acabou mantendo uma cultura de compras desse tipo de veículo até os dias atuais. E convenhamos, em algumas cidades (como Natal), onde o incentivo ao uso do transporte público é nulo, dá medo investir em veículos mais adequados ao bom transporte de passageiros, que naturalmente custam caro.
Empresas ousadas como a potiguar Riograndense, que pioneiramente investia em veículos confortáveis para transportar passageiros acabaram sentindo as dificuldades de trabalhar com esse tipo de veículo numa cidade politicamente retrógrada. Lamentavelmente ela faliu no ano passado, alegando, inclusive, falta de incentivos na “capital do sol”.
Então, mais uma vez deposito minha confiança na licitação das linhas urbanas que deve haver em Natal para mudar o cenário. Que as nossas linhas sejam operadas por veículos acessíveis e confortáveis para todos os tipos de passageiros. E que os gestores favoreçam esse tipo de serviço, claro.
Não desejo a extinção do ônibus com motor dianteiro, mas gostaria de vê-los operando somente em trajetos difíceis, o que nas ruas de uma capital tende a inexistir. Mais uma vez, é esperar para conferir. Por enquanto, faço um apelo aos empresários potiguares: pelo bem de seus passageiros, adotem pelo menos a utilização da suspensão pneumática. Ela certamente trará benefícios que os números não podem expressar!
Rossano Varela
Sempre perfeito muito bom mesmo!