Um dos focos dos protestos que se multiplicam Brasil afora, o transporte público está em xeque. Que o serviço é ruim e a tarifa é cara todos sabem. De um lado, usuários exigem melhorias e passe livre. Do outro, gestores e empresários do setor rebatem, afirmando que, ao priorizar o veículo individual (carro e moto) em detrimento do coletivo e não motorizado, o País paga um alto custo pelo caos no trânsito.
E mais, apontam os donos de empresas de ônibus, como não existe possibilidade de tarifa zero, ao isentar da passagem parcelas da população, como idosos, sobra para a massa trabalhadora em geral pagar a conta. “Não tem almoço grátis. Se numa mesa comem dez pessoas, ao eximir cinco do pagamento, as outras cinco dividem o encargo total”, justificam os empresários.
Perdas: De acordo com dados do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), nos últimos 18 anos, houve uma acentuada redução da demanda pagante.
Em 1995, informa o sindicato, quando o sistema integrado (terminais) já estava implantado, a entidade registrava 26 milhões de pagantes por mês. No ano passado, o total foi de 24,7 milhões/mês – perda de 1,3 milhão de usuários por mês.
Vários fatores concorreram para a redução da demanda pagante de passageiros, avalia a Associação Nacional de Transporte Público (ANTP). Entre eles, o crescimento do transporte individual, aumento do número de clandestinos, empobrecimento da população, falta de investimentos públicos permanentes no setor e a falta de flexibilidade de gestores e operadores em qualificar e tornar mais eficiente os equipamentos e os serviços.
O superintendente técnico do Sindiônibus, Francisco Pessoa de Araújo, afirma que não foi por falta de investimentos. “Em 95, tínhamos a oferta de 1,3 mil ônibus, hoje temos 1,8 mil, sendo que o número de carros particulares e motos cresceu vertiginosamente”, diz. Segundo ele, se antes um ônibus fazia determinado percurso em uma hora, hoje, não consegue fazer em menos de duas e aí haja espera e lotação nas paradas e terminais. “Você sabia que, em vez de colocar mais 130 ônibus na Cidade, é melhor aumentar em um Km por hora a velocidade média dos coletivos no horário de pico?”, questiona Pessoa.
Porém, as queixas são muitas e recorrentes. Quem depende do ônibus reclama. “Enfrento uma via-crúcis diária e pagando caro. Se pudesse, comprava uma moto”, aponta o comerciário José Tales Filho.
O diretor técnico da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), André Dantas, admite que a oferta de coletivos com mais qualidade atrairia novos usuários.
Em sua análise, investimentos maiores exigem subsídios – recursos financeiros diretos – dos entes públicos. O problema do Brasil, argumenta ele, é que esse investimento é sempre feito com base nos recursos coletados da tarifa, enquanto, no mundo todo, os subsídios para o serviços essenciais são de 60% a 70% bancados pelo governo. “No País, quem paga é o usuário, não é a sociedade como um todo”, afirma. Para especialistas, como o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Borzacchiello da Silva, a população tem toda razão em bradar por melhores serviços, porém, alerta, não será fácil corrigir as distorções.
“Chegamos a uma situação calamitosa. Urge rapidez no processo decisório e sabedoria e nas escolha dos modais e dos modos operacionais. O lucro tem vigorado. Transporte público não é negócio. Tem e deve ser tratado como prioridade, como direito do cidadão de se deslocar”, frisa.
A Empresa de Transportes Urbanos de Fortaleza (Etufor) promete melhorias na mobilidade com a implantação de mais corredores preferenciais. Para logo, anuncia dois novos do Centro ao terminal da Lagoa, na Av. Carapinima e José Bastos e em toda a extensão da Av. Perimetral.
Para a empresa, o serviço tem ainda muito o que melhorar. Atualmente, o sistema registra 600 mil usuários por dia. “Temos a tarifa social aos domingos e feriados, a hora social, que é das 9h às 10h e das 15h às 16h, com o preço de R$ 1,80 (inteira) e R$0,90 (meia) e o bilhete único, que facilita o ir e vir da população”, destaca.
Fonte: Diário do Nordeste (CE)