Os recorrentes assaltos que vêm assustando os trabalhadores e usuários do sistema público de transporte urbano foi tema de audiência pública na manhã de hoje na Câmara Municipal de Natal. Segundo o vereador propositor da sessão, Aroldo Alves, presidente da Comissão de Planejamento Urbano, Meio Ambiente, Transportes e Habitação da Casa Legislativa, o objetivo é debater o assunto e apurar a opinião das autoridades para que uma comissão formada por parlamentares, poder público e sociedade civil possa encontrar soluções para os problemas.
Uma das ideias levantadas pelo próprio vereador é a criação de uma delegacia especializada na investigação de crimes no sistema de transporte. “Seria uma delegacia voltada especialmente para combater esses crimes ou capaz de criar estratégias que possam solucionar esses problemas. O que não podemos é continuar permitindo que a população e os trabalhadores continuem colocando suas vidas em risco, quando deveriam ser deslocados de casa para o trabalho com a segurança garantida por lei”, refletiu o parlamentar.
Durante a audiência foram apresentados dados da segurança pública da capital que afetam diretamente na qualidade do transporte público como, por exemplo, a falta de efetivo para realizar rondas nos veículos e nas paradas de ônibus. Aroldo Alves destacou ainda a necessidade de investir não apenas na infraestrutura, mas em ônibus novos e ruas asfaltadas. “O cidadão não pode andar no ônibus com medo de ser assaltado. Há motoristas que foram vítimas mais de uma vez. Precisamos de um policiamento mais atuante”, afirmou.
Foram convidados para participar da audiência a secretária de mobilidade urbana (Semob), Elequicina Maria dos Santos; o Comando da Polícia Militar; o secretário municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico (Seturde), Fernando Bezerril e o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Natal (Seturn). O representante do sindicato das empresas não compareceu.
Na ausência da titular da Semob, o diretor de estudos e projetos da secretária, Jaime Balderrama, explanou sobre a função do órgão municipal. “A gente está aqui porque o sistema de transporte é municipalizado, mas não existem projetos nossos que possam interferir nas ações do Estado, que é o responsável por garantir a segurança. Se há um assalto a um ônibus, não é a Semob, o motorista ou empresário que deve responder por isso”, afirmou Jaime. “A segurança pública não depende do transporte. Mas as empresas de ônibus, para preservar os seus patrimônios, deveriam colocar câmeras de segurança que serviriam para controle dos assaltos e poderiam garantir mais segurança à população”, completou.
Entretanto, mesmo afirmando não ter como ajudar no subsídio da segurança pública, a Semob deverá integrar a comissão para discutir o tema junto à população. “A partir dessa audiência é que saberemos como dar frente a essa discussão”, declarou o diretor de estudos e projetos da Secretaria de Mobilidade Urbana. A equipe de reportagem procurou representantes do Seturn e do Comando da Polícia, porém ambos não quiseram declarar seus posicionamentos.
Acompanhando as discussões pontuadas, Josivan Gonzaga, ex-cobrador de ônibus, se fez presente na audiência para representar a classe de trabalhadores que sofre diariamente com o medo dos assaltos. Segundo ele, dois ataques à linha em que trabalhava o fizeram deixar de trabalhar no cargo que exercia há 12 anos.
“Simplesmente os bandidos sobem nos ônibus como se fossem passageiros comuns e anunciam o assalto. Nas duas situações que presenciei, graças a Deus não me aconteceu nada grave. Porém, a conseqüência surge depois. Estresse e nervosismo se tornam algo recorrente. A gente fica com medo de qualquer pessoa que sobe no ônibus”, contou. “Nossos governantes têm que ter vergonha na cara e reconhecer os nossos direitos. E os empresários também poderiam contribuir, mas eles não estão nem aí. Hoje, mesmo desempregado, eu peço a Deus para não precisar voltar a trabalhar como cobrador”.
Foto: Sérgio Costa (Portal BO)
Fonte: Jornal de Hoje