Revisão de aumento da tarifa de ônibus divide opiniões

Menos de um mês após sofrer reajuste de 9,09%, que elevou o valor de R$ 2,20 para R$ 2,40, a tarifa de ônibus de Natal passou por nova alteração, que está em vigor desde o último dia 04. Publicada na edição do Diário Oficial do Município (DOM) da terça passada, uma portaria determina a redução de R$ 0,10.

Segundo a Prefeitura, o novo cálculo, feito por técnicos da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), foi feito com base na Medida Provisória 617/2013, veiculada na última sexta-feira (31), no Diário Oficial da União, que zera o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Confins) para empresas de transporte público. No entanto, o movimento #Revoltadobusao organizou mais um protesto, que ocorreu no último dia 6, em frente ao shopping Via Direta.
A briga travada entre o poder público, os empresários e a população gerou uma vitória para os manifestantes, que viram a confirmação de que uma licitação para a prestação de serviços será aberta até o final do ano. Enquanto isso, usuários do transporte coletivo arcam com o impasse sobre os custos de manutenção da rede. Para a estudante Heloísa Leandro, o percurso entre sua residência nas Quintas, até a Escola Estadual Floriano Cavalcante, em Mirassol, teve um acréscimo de R$ 144 por ano, mesmo com a nova tarifa de R$ 2,30 (como estudante, ela paga R$1,15). “Eu antes colocava R$ 45 para vir para o colégio e para um curso que faço no Centro. Agora, tenho que gastar R$ 57. Se víssemos uma melhora no serviço, tudo bem, mas não é o que tem acontecido”. A jovem de 16 anos paga seis, sete viagens por dia, e conta que, em três ocasiões, passou mal dentro de um ônibus, em virtude da superlotação.
“Uma vez, eu desmaiei mesmo. O motorista estava fazendo manobras bruscas, curvas em velocidade, freadas fortes, e aquilo foi me dando um mal estar. Nisso, foi ficando cada vez mais cheio, tanto que ele nem parava em algumas paradas. Chegou uma hora que aquele sufoco, estava quente, sem ter nem como me mexer, me tirou o ar”, diz Heloísa. Sua despesa com transporte faz parte de um valor familiar, que inclui da mãe e a do irmão também estudante, ultrapassa os R$ 300. “Isso é imoral. Se juntar com a feira, que está cada vez mais cara, mostra que o dinheiro não está dando mais para nada. Minha mãe tem reclamado muito e estamos pensando até em cancelar o curso”.
No último dia 1º, o prefeito Carlos Eduardo Alves informou, no Twitter, que a passagem iria reduzir. Parecia uma vitória para os manifestantes da #RevoltadoBusão. Mas a pequena revisão surgiu de mais uma medida do Governo Federal contestada por economistas – assim como a extensão indeterminada do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI).
Sem reforma tributária, investimentos em infraestrutura e desenvolvimento da sociedade, aliado ao crescimento econômico propagado, é questão de tempo para um novo aumento. É o que pensa de forma condensada a vendedora Maria Auxiliadora do Nascimento. “Eu não entendo de economia, mas já vi que não adianta essa briga toda por centavos. O que tem que ser mudado é o processo todo. Se ouvirmos direitinho, cada lado que reclama tem sua razão. Mas, claro, quem sofre mais é o povo”.
Caso de Jamil Massud Neto. Com uma bolsa nas costas, ele pega mais de 30 ônibus por dia, sobretudo os que passam nas imediações do Natal Shopping e do Midway Mall, para vender guloseimas aos passageiros. “Dia bom, tiro uns R$ 80, R$ 100, mas boa parte vai embora com a passagem. E olhe que eu corro para pegar o Passe Livre [opção de trocar de carro, gratuitamente, a partir do décimo minuto até uma hora após a descida da linha original]. Esses R$ 0,10 a menos mudam muito pouco. O que eu queria mesmo era mais ônibus nas ruas porque quando está lotado, tudo aumenta a revolta do povo. Mas quem decide isso anda de carro, né? Queria ver eles aqui”.

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