Os estudantes retornaram às ruas de Natal para, mais uma vez, protestar contra o reajuste na tarifa do transporte público coletivo que entra em vigor a partir deste sábado (18). Ontem à tarde, um grupo composto por menos de mil estudantes fizeram uma passeata pelo Centro da cidade. Saíram do Baldo, foram à Prefeitura e encerraram o manifesto na Câmara dos Vereadores. Diferente do que ocorreu na última quarta-feira, ontem não foram registradas cenas de repressão por parte da polícia nem badernas promovidas pelos componentes da “Revolta do Busão”.
A passeata de ontem foi promovida por entidades estudantis de Natal. Organizaram o movimento a União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (Umes), Associação Potiguar dos Estudantes Secundaristas (Apes), União Nacional dos Estudantes (Une), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e o DCE da UFRN. A participação das entidades desagradou alguns componentes da “Revolta do Busão”. O grupo dissidente da maioria afirmava que o manifesto contra o aumento do valor da passagem de ônibus é do povo, e não de uma classe apenas.
O grupo saiu coeso das proximidades do Baldo com destino à sede da prefeitura. Durante o percurso na avenida Rio Branco, lojistas fecharam as portas dos estabelecimentos comerciais com medo de alguma invasão. Porém, nenhum incidente foi registrado pelos policiais que seguiam a passeata.
Ao chegar na frente do prédio da prefeitura, o grupo foi recebido por uma equipe da Guarda Municipal. Apesar dos gritos, vaias e protestos, ninguém teve acesso ao prédio. O grupo tentou entregar um documento – uma espécie de abaixo-assinado – na prefeitura, no entanto, a entrada de qualquer estudante foi proibida.
Sem diálogo na prefeitura, o grupo decidiu ir até à Câmara Municipal. A passeata seguiu pela Ulisses Caldas, Prudente de Morais e Jundiaí. Durante esse trajeto, os protestantes passaram por uma parada onde dois ônibus estavam parados. Os veículos foram alvo de pontapés, murros e até mesmo pedras. Ninguém foi ferido. Algumas bombas foram jogadas na rua.
Na Câmara, os vereadores Sandro Pimentel (PSOL) e Rafael Motta (PP) conversaram com o grupo na porta de entrada. Porém, depois de um diálogo tenso, ficou decidido que pouco mais de 50 estudantes teriam acesso ao plenário da casa.
Câmara aprova requerimento para impedir reajuste: Os vereadores aprovaram ontem dois requerimentos – um de autoria de Amanda Gurgel (PSTU) e outro de Júlio Protásio – como alternativas ao aumento das passagens de ônibus, já anunciado pelo prefeito Carlos Eduardo. A vereadora do PSTU solicitou a suspensão do ato governamental, que elevará a tarifa. Já Protásio, defende que Governo e Prefeitura subsidiem o valor da passagem, como ocorre em outros municípios do país. Isso seria possível com a redução do valor do ICMS (estado) e ISS (município) incluído na tarifa da passagem. Os requerimentos, no entanto, não têm o poder de revogar o aumento na tarifa e funcionam como uma solicitação para que o prefeito proceda as alterações.
Os vereadores, em sua maioria, defendem que o prefeito Carlos Eduardo agilize o processo licitatório do novo sistema de transporte da capital para somente depois analisar o aumento das tarifas. Ontem, os parlamentares se posicionaram contrários ao aumento sem qualquer negociação ou diálogo com a sociedade. Os vereadores Hugo Manso (PT) e Rafael Motta (PP), por exemplo, destacaram que é necessário entender o que motivou a elevação da tarifa e acrescentaram que, para isso, seria necessário um argumento plausível, como a melhoria no sistema de transporte. Os parlamentares da bancada de esquerda, ao contrário, são terminantemente desfavoráveis ao reajuste. Segundo eles, a população não tem condições de arcar com mais despesas. “Por que até agora não fez a licitação”, questionou Amanda Gurgel.
Além dos requerimentos aprovados ontem, o vereador Fernando Lucena (PT) vai apresentar um projeto de decreto legislativo para anular o reajuste. “Acho que minha proposta levará no mínimo 15 dias para ser apreciada”, disse o petista. É que a matéria deverá ainda passar pela Comissão de Constituição e Justiça para somente após ser analisada em plenário.
Reajuste está mantido: O preço da passagem de ônibus em Natal passará de R$ 2,20 para R$ 2,40 neste sábado (18). Segundo a assessoria da Prefeitura de Natal, o novo valor está mantido porque o prefeito Carlos Eduardo Alves ainda não analisou o pedido de revogação aprovado pela Câmara Municipal nesta quinta-feira (16). “A princípio, o aumento está mantido”, confirmou Marcos Alexandre, secretário adjunto de Comunicação.
Ao G1, Alexandre disse que qualquer mudança será anunciada pela Prefeitura. “Até o momento não recebemos nenhum requerimento da Câmara. O prefeito ainda analisará o pedido, mas até agora o aumento está mantido para o sábado”, frisou.
Novo protesto na segunda: Os integrantes da Revolta do Busão se reúnem hoje, às 17h, em plenária no Centro de Convivência da UFRN para decidir a data da audiência com o prefeito Carlos Eduardo Alves e horário e local da próxima manifestação que deve ocorrer na segunda-feira.
“Nós estamos reivindicando a realização de uma licitação pública com participação popular e a legitimidade do Conselho Municipal de Mobilidade Urbana que não tem representação democrática dos estudantes”, disse Wham Costa, diretor da União Metropolitana dos Estudantes, um dos porta-vozes do movimento.
Por uma questão de estratégia, os estudantes preferem não revelar onde será a movimentação da segunda-feira. “Já sofremos muito com retaliações, agora temos que agir com cautela”, disse um dos manifestantes, que não quis se identificar.
SETURN fica em silêncio: O sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros do Município do Natal (Seturn) decidiu adotar o silêncio sobre a lei que reajusta as tarifas de ônibus para R$ 2,40 e as manifestações da Revolta do Busão que ontem bloquearam o tráfego na Avenida Salgado Filho e BR-101 provocando conflitos com a polícia.
A assessoria de comunicação da entidade informou ao portalnoar.com que a decisão foi tomada hoje pela manhã quando a diretoria entendeu que é melhor não serem repassadas informações oficiais “até que ânimos estejam mais calmos”.
Fotos: Wellington Rocha (Portal No Ar) e Roberto Lucena (Tribuna do Norte)