Oito meses depois do último protesto popular, os manifestantes – em sua maioria estudantes – retornaram às ruas de Natal, no final de tarde de ontem, para protestar contra o aumento na tarifa do transporte público de passageiros. Por isso, o UNIBUS RN, em atualização especial, traz um resumo do que aconteceu no movimento, que parou a entrada da capital potiguar.
O protesto: Desafiando uma decisão judicial que proibia a ocupação da BR-101, os integrantes da chamada “Revolta do Busão” ocuparam todas as faixas da via, no início do protesto, no fim da tarde de ontem. O Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPChoque) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) usaram balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta para encerrar o movimento. Pelo menos cinco estudantes foram presos.
Assim como ocorreu ano passado, a manifestação de ontem foi orquestrada pelas redes sociais. No entanto, dessa vez, houve uma participação mais efetiva de entidades estudantis. O motivo do protesto foi o anúncio do aumento da tarifa de ônibus que, a partir do próximo sábado, passará de R$ 2,20 para R$ 2,40. O reajuste corresponde a um aumento de 9,09%. De acordo com a informação divulgada pela Semob, o reajuste é menor do que o percentual de inflação acumulada durante 28 meses, que teria sido de 15,54%. O valor praticado é menor que o pedido pelos empresários, que era de R$ 2,75.
Através das redes sociais, os manifestantes anunciaram que o protesto seria pacífico. A concentração começou ao lado do shopping Via Direta onde policiais do BPChoque já estavam presentes. De lá, o grupo composto por aproximadamente duas mil pessoas seguiu rumo ao cruzamento das avenidas Hermes da Fonseca e Bernardo Vieira. Durante o trajeto, algumas pessoas jogavam bombas, invadiam faixas da via oposta e pichavam paredes de prédios públicos e privados.
Ao chegar em frente a uma universidade privada, o grupo se dividiu e cenas de vandalismo foram registradas. Jovens encapuzados chutaram lixos, batiam nos carros e ônibus e ameaçavam motoristas. Ao chegar ao cruzamento, todas as vias já estavam bloqueadas pela Semob e nenhum veículo passava no local. A ação prévia da Semob acabou frustrando os estudantes que queriam promover um “roletaço” nos ônibus. Como não havia ônibus trafegando, eles decidiram retornar ao local de início da manifestação.
Na caminhada de retorno, o enfrentamento com a polícia foi inevitável. Nas proximidades de um shopping center, de acordo com o major Marinho, subcomandante do BPChoque, os policiais tentaram negociar a dispersão do movimento. Sem acordo, a polícia atirou balas de borracha e bombas de efeito moral contra a multidão. Mesmo assim, parte dos manifestantes continuou a caminhada. Foi no viaduto do 4°Centenário que o movimento foi disperso com uma nova saraivada de tiros de balas de borracha e spray de pimenta.
Na ação, pelo menos três pessoas foram presas pela Polícia Militar e mais duas foram detidas pela PRF. Algumas pessoas reclamaram do “excesso” de força da polícia. Policiais do BPChoque recolheram a máquina fotográfica do fotógrafo Rogério Marques. Quando devolveram o equipamento, as fotos feitas durante a manifestação já não estavam no cartão de memória. “Eu estava trabalhando e a polícia fez isso. É um absurdo”, contou. Já o estudante Paulo de Tarso, 18 anos, foi atingido por uma bala de borracha no rosto. “Acho que eles excederam. O protesto estava pacífico”, disse.
Versões sobre o confronto: O movimento intitulado #RevoltadoBusão iniciou o protesto contra o aumento da passagem de ônibus por volta das 17h na passarela da BR-101, na altura do bairro de Candelária, zona Sul, e partiu em direção ao shopping Midway Mall, no bairro Tirol, zona Leste. Até lá a tranquilidade imperou. Quando voltava para o ponto de saída, na intersecção entre a avenida Salgado Filho e a BR-101, manifestantes e policiais militares se confrontaram. Os relatos mostram um cenário de guerra por volta das 19h15.
A cena se repetiu mais a frente, entre as 20h e 21h, quando o grupo chegou à passarela da BR-101, mesmo local de onde saiu o movimento. Novos disparos de bala de borracha foram efetuados pelo Pelotão de Choque da Polícia Militar. Com escudos, os policiais avançaram pela BR-101.
De um lado, os integrantes do movimento acusam a PM de iniciar o tumulto. “Ficou claro que naquele momento o objetivo da operação era nos espancar”, relata o estudante de História João Carlos de Melo Silva, 19 anos, atingido por uma bala de borracha na panturrilha. Já Glícia Alves, 20 anos, estudante de Psicologia. “De repente o pessoal recuou, eu abaixei e quando levantei meus olhos ardiam. Um amigo me deu a mão e saí desnorteada. Foi tudo muito rápido”, conta. Os estudantes disseram que os próprios integrantes socorreram os feridos.
Do outro lado, os policiais informaram que a confusão começou após pedradas vindas de onde estavam os manifestantes. “Uma equipe da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) estava atendendo a um cidadão que havia sido atingido por uma pedra. Nesse momento, os policiais também foram atingidos por pedradas. Como já havia uma ordem judicial para a PM usar a força em caso de violência, agimos dentro da legalidade”, explicou o subcomandante de Policiamento Metropolitano, tenente-coronel Alarico Azevedo.
De acordo com o coronel Túlio César, que comandou a operação da PM, a informação dos policiais mais próximos do tumulto foi de que alguns manifestantes atiraram fogos de artifício na direção da polícia. “Acreditamos que isso foi feito por vândalos infiltrados no movimento. Os próprios estudantes nos informaram que viram um homem armado entre os manifestantes, mas não fazia parte do movimento”, informou o coronel Túlio César.
Trajeto dos ônibus foi reduzido: Desta vez, os motoristas de ônibus parecem ter sido orientados sobre o protesto. Muitos deles, ao verem o grupo em frente ao Midway, deram meia volta no retorno em frente ao IFRN. Duas bombas de menor efeito explosivo (traques de São João) foram jogadas nesse mesmo local. Uma senhora que apoiava e protesto e preferiu não se identificar condenou esse tipo de comportamento. “Esses atos, que considero molecagem, desviam o foco do protesto. A manifestação política é importantíssima, mas não pode descambar para o vandalismo”, falou ela.
Novo protesto nesta quinta: Outro protesto será realizado hoje, às 15h, com concentração no Baldo. Haverá uma passeata, cuja organização é da Umes, Apes, Ubes e o DCE da UFRN. A mobilização reivindicará o assento dos estudantes no Conselho de Mobilidade Urbana, a suspensão da decisão que autorizou o aumento da passagem e a garantia de licitação do transporte público em 2013.
Fotos: Alex Régis (Tribuna do Norte) e Felipe Gibson (G1 RN)
Edição: Andreivny Ferreira