O público do Cine PE – Festival do Audiovisual encheu o Teatro Guararapes, em Olinda, para assistir a um documentário sobre uma linha de ônibus que, por coinciência, passa ali em frente. Único pernambucano entre os sete longas na mostra competitiva do evento, “Rio Doce – CDU”, de Adelina Pontual, foi exibido na segunda-feira (29) e causou nítida identificação com os espectadores, provocando risos e aplausos em vários momentos.
O filme acompanha o trajeto de cerca de uma hora e meia da longa e movimentada linha de ônibus, mostrando tanto cenas cotidianas que acontecem dentro do veículo como depoimentos de moradores e comerciantes dos entornos das paradas, num retrato maior da periferia de Olinda e Recife.
Em seu primeiro longa, a curta-metragista pernambucana pegou o Rio Doce – CDU várias vezes e em diferentes horários, além de cumprir o mesmo trajeto a pé, em busca dos personagens ideais. Durante a pesquisa, seu contato foi breve. Nas filmagens, realizou as entrevistas de fato, aproveitando também para colher depoimentos de quem encontrava na hora.
Pontual não se lembra quantos relatos reuniu (a filmagem foi realizada em 2009), mas disse que seu critério de escolha de personagens era baseado na busca por uma diversidade de vozes e na própria empatia que sentia por eles.
A empatia foi transmitida ao público do Cine PE, formado por muitos usuários reais da linha de ônibus, que riam dos depoimentos sobre a demora ou a precariedade da viagem. Apesar do lado cômico, o filme também pretende discutir questões centrais da vida urbana, desde a mobilidade e o trânsito até a verticalização das cidades – também abordada na premiada ficção pernambucana “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho.
“Quis propor vários temas e, como o ônibus, ir passando por eles, sem entrar muito, mas soltando farpas”, afirma Pontual. “Espero que não fique só no humor e na risada.”
Mais do que os depoimentos, o filme impressiona pela qualidade técnica, com pequenas câmeras sendo presas ao ônibus como espelhos, para incorporar imagens da cidade.
Há, também, uma boa cena em que se filma a parte de baixo do veículo, com o equipamento bem próximo ao asfalto. “Tivemos de escolher a dedo o trecho de filmagem, já que a rua é muito esburacada”, conta a diretora.
A equipe de som também teve o desafio de fazer a captação de áudio em locais extremamente barulhentos, a começar pelo próprio ônibus, já que as filmagens ocorreram principalmente durante trajetos normais, sem que a equipe interferisse no fluxo de passageiros.
Na edição, houve a preocupação de preservar o realismo da rua, mas, também, oferecer descansos e abstrações – similares às dos passageiros – ao espectador. Para isso, Pontual contou principalmente com a trilha sonora de DJ Dolores e Yuri Queiroga, que, sem orçamento para criar música original, optaram por utilizar canções típicas de Olinda e Recife.
Filmado após obtenção de patrocínio por meio de dois editais pernambucanos, “Rio Doce – CDU” ainda não tem distribuidora.
Foto: Portal Adoro Cinema
Fonte: Último Segundo