Utilizado por mais de um milhão de pessoas diariamente, o transporte coletivo da Grande Fortaleza virou sinônimo de vulnerabilidade à violência. Em apenas janeiro, fevereiro e março, 2013 já registrou mais ocorrências de assaltos a ônibus (579 casos) do que em 2012 inteiro (557). De um trimestre para o outro, o aumento foi de 394%.
Os dados constam em balanço divulgado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) ontem, um dia após o motorista César Carlos Matos, 44, ser atacado por dois adolescentes na Praia do Futuro e receber um tiro no olho, durante assalto. Encaminhado ao Instituto José Frota (IJF), ele passou por cirurgia. O estado é considerado grave. Os dois jovens foram apreendidos e levados à Delegacia da Criança e do Adolescente.
O inchaço estatístico desafia os investimentos que o Sindiônibus diz ter feito para o controle e a segurança dos veículos. Em oito anos, o empresariado fala em R$ 30 milhões aplicados na instalação de câmeras, GPS e fixação de cofres para diminuir a quantidade de dinheiro manuseada pelos cobradores.
A quase quintuplicação dos casos de um trimestre para o outro também põe em xeque a logística policial para combater esse tipo de crime que, conforme o jornal O Povo mostrou em 19 de março, é constante até nas linhas que rodam apenas de madrugada.
A categoria relata cenários de até sete assaltos numa mesma linha num mesmo dia. Motoristas e cobradores dizem trabalhar sob tensão. “A audácia é tão grande que os bandidos chegam a tirar o cobrador da cadeira e ficam no lugar dele recolhendo o dinheiro dos passageiros. O medo é grande”, relata o diretor do sindicato dos trabalhadores (Sintro), Valdir Pereira.
Siqueira e Conjunto Ceará são apontados como bairros/terminais críticos. “Eles batem nos profissionais. Virou cenário de faroeste. Está inviável e os motoristas estão abandonando a profissão. Não existe mais aquela coisa de passar de pai para filho”, revela um outro diretor do Sintro, Geraldo Lucena.
Praia do Futuro e Caça e Pesca também são consideradas regiões problemáticas. O mesmo vale para a avenida Sargento Hermínio. “Como o motorista faz a mesma linha todo dia, os assaltantes conhecem e ameaçam. Dizem que, se forem presos, saem logo e voltam pra matar. Nesses assaltos, os cobradores e motoristas ficam sob a mira de armas. E muitos deles (assaltantes) estão drogados. É um perigo”, delatou um agente.
Presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira garantiu que tomará providências e deve acionar a Secretaria da Segurança. “Vamos avaliar o que pode ser feito para amenizar a situação em curto prazo.” Tentamos falar com a Secretaria e com o Comando da PM, mas nenhuma das oito ligações foi atendida até o fechamento da matéria.
Protesto: Motoristas e cobradores de ônibus realizaram protesto, ontem, para exigir mais segurança no exercício da profissão. Durante cerca de uma hora, nenhum coletivo saiu dos Terminais da Messejana e do Papicu.
A manifestação foi uma reação dos profissionais à tentativa de latrocínio que deixou um motorista gravemente ferido na noite anterior, na Praia do Futuro. “Esses dois garotos (autores do crime) são conhecidos por assaltos que costumam praticar aqui na área. O mais velho já foi apreendido várias vezes pela nossa equipe, acusados de assalto e porte ilegal de arma de fogo”, afirmou o soldado Henrique Rocha.
A paralisação começou por volta das 9h20min e terminou às 10h15min. O movimento teve a participação do Sintro. Diretor da entidade, Tobias Brandão afirmou que o ato é uma “súplica” ao Governo e Prefeitura por mais segurança. “Esse é um grave problema social. Precisamos urgentemente de uma política de segurança para evitar que esses jovens continuem agindo na certeza da impunidade.”
O dirigente disse ainda que o Sintro quer uma audiência entre a categoria, a Prefeitura e a Polícia Militar.
Com informações: Jornal O Povo (CE)