Na semana passada tive a oportunidade de conversar informalmente com um motorista conhecido, e dentre os muitos assuntos que tratamos estava o da profissão de motorista de ônibus. Na conversa ele demonstrou gostar muito de dirigir e transportar passageiros, mas sua fala aflita revelara uma realidade cruel que esses profissionais vivem.
Uma coisa é certa: eles gostam, sim, de dirigir ônibus; se não fosse assim, não dirigiam. Mas a categoria, que um dia fora muito valorizada e respeitada, hoje sofre com salários baixos e, principalmente, condições nada favoráveis ao exercício da profissão. Pela conversa, pude sentir que uma das maiores causas do estresse desses profissionais começa na própria empresa em que trabalham. Não é raro encontrar motoristas com problemas com seus superiores.
Os carros em que trabalham também pesam contra o exercício da profissão: ônibus com motores dianteiros são mais barulhentos e quentes para o motorista, que dirige ao lado do motor. Como a maioria destes ônibus não possuem uma manutenção detalhista, acaba que à medida que o carro envelhece, mais barulhento ele fica, piorando gradativamente o posto de trabalho.
Outro detalhe importante é a poltrona que os motoristas dirigem o ônibus: é muito fácil encontrar motoristas com problemas na coluna. Muitos se encontram na perícia, inclusive. Tanto montadoras quanto empresas de ônibus deveriam pensar neste ponto essencial. O prejuízo gerado pelo afastamento do profissional, imagino, deve ser maior que comprar ônibus com poltronas mais ergonômicas.
Para completar, vem o trânsito engarrafado, que obriga o motorista a passar mais marchas (visto que a maioria dos nossos ônibus são manuais), o risco de assalto, a dupla função de cobrar e dirigir, além, claro, ainda enfrentar a falta de educação de muitos passageiros, muitas vezes sendo xingado, tendo que ficar calado.
O motorista que conversei ainda disse: “eu poderia ter sido outra coisa, mas hoje sou apenas um reles motorista de ônibus”. Essa frase mostrou o quanto estes profissionais, de uma das profissões mais essenciais do mundo, estão com baixa-estima.
Para mim o motorista hoje é um grande vitorioso: mesmo com todas as adversidades, muitos ainda conseguem retribuir um “bom dia” com um sorriso estampado no rosto. E se houver algum motorista lendo este texto, saiba que existe uma legião de anônimos que são fãs desta bela profissão, e torcem cada vez mais para que a categoria saia da crise e volte a ter o status que o tempo apagou.
Rossano Varela – interino
Parabéns pelo post Rossano! Vi essa conversa informal de perto, e sabemos o quanto que o motorista de ônibus é importante e deveria ser tratado de melhor forma em nossa sociedade!