Garagem.com: Transporte inseguro

Assim que recebi a notícia de que um ônibus da empresa natalense Nossa Senhora da Conceição havia sofrido um acidente e em consequência disto pegou fogo, no último dia 23, me veio a sensação de insegurança que temos no transporte. Pouco tempo depois, no dia 26 de março, um ônibus da Viação Itapemirim caia de uma ponte no estado do Alagoas, vitimando uma pessoa e ferindo cerca de 30. Por último, um ônibus da Viação Cometa caiu num barranco no último dia 29, também com vítimas fatais. Com todos esses incidentes passei a refletir sobre o nível de segurança dos ônibus brasileiros. Será que estamos realmente seguros ao andar de ônibus?
O incêndio no ônibus da Conceição mostra o quão “inflamáveis” são os ônibus que andamos diariamente. Ora, em outros episódios, principalmente em caso de vandalismo, vemos a rapidez com que as chamas queimam o veículo. Isso se deve principalmente aos materiais utilizados nas carrocerias, como borrachas e plásticos. Ainda bem que, segundo relatos, o referido ônibus estava com poucos passageiros. Se ele estivesse superlotado, o que é comum em horários de pico em Natal, a tragédia teria acontecido. No caso dos acidentes envolvendo os ônibus das Viações Itapemirim e Cometa houve uma queda dos veículos, sendo o último o mais grave. Os mortos deviam estar sem o cinto de segurança, e os feridos devem certamente ter sido machucados por objetos pessoais, partes internas do veículo, etc.
Então, respondendo a pergunta do primeiro parágrafo, a resposta é: talvez. Pelo fato de serem veículos pesados e grandes, e geralmente transportarem passageiros num nível mais alto que veículos de passeio, os ônibus tornam-se veículos seguros, até que eles encontrem algo de mesmas proporções. Não me lembro de acidentes envolvendo dois veículos pesados em que não haja um considerável número de vítimas fatais.
Meu questionamento sobre a segurança dos ônibus começa a partir de suas fabricações. Aqui no Brasil somente são vendidos ônibus cuja montagem se dá pela união de um chassi a uma carroceria, tal qual os automóveis da primeira metade do século XX (e uns poucos mais atuais), ao invés de um produto monobloco, cuja carroceria e chassi são uma grande peça única. Aliado a esse método vem o emprego da fibra de vidro, ou fiberglass, como também é conhecida, sobretudo na dianteira, traseira e teto dos ônibus. A fibra é prática e facilita a manutenção, além de ser leve, mas em termos de segurança, deixa a desejar se comparado ao aço, que ao se amassar absorve a energia de um impacto, ao invés de apenas quebrar ou rachar.
Há ainda a pouca exigência por parte do mercado por veículos mais seguros, equipados com freios ABS ou sistemas auxiliares, como o EBD (que impede que um veículo saia de sua trajetória numa curva), embora que chassis mais modernos como o Volvo B420R ofereçam estes itens, de série ou opcionais. No segmento urbano estes e outros itens de segurança parecem não fazer parte do mundo dos transportes de passageiros. Outro fator é a pouca conscientização sobre o uso do cinto de segurança em viagens rodoviárias. Creio que boa parte das vítimas fatais de qualquer acidente envolvendo um ônibus estava sem utilizar o acessório. No setor urbano o item seria bem vindo, mas, pela dinâmica das cidades, fica praticamente inviável utilizar o acessório nos ônibus. Nesse caso, limitar a velocidade do veículo parece ser mais adequado.
Muito pouco se fala sobre o nível de segurança de nossos ônibus, até mesmo os automóveis de passeio brasileiros, que geralmente são muito pouco seguros. Acredito que já está na hora de avaliar essa questão! O último movimento que contribuiu nesse sentido foi o Projeto Padron, do final da década de 70, um importante salto na nossa indústria! Veremos o que se seguirá. Quem sabe logo, logo os nossos ônibus não apresentam um novo salto para ficarem ainda mais modernos? Fiquemos ansiosos no aguardo!
A ocasião faz o ladrão
Enquanto a Jardinense, literalmente, afunda, os proprietários dos veículos do transporte opcional do segmento “6” que operam a linha Natal/Caicó têm feito generosos investimentos em suas frotas. Não se vê mais veículos velhos no trecho e alguns carros estão dispondo até de ar-condicionado – sem qualquer reajuste na passagem. Não diria que é a eutanásia da Jardinense, mas, com certeza, uma grande ajuda no possível e previsível fim da empresa na linha entre Caicó e Natal.
Rossano Varela – interino

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