#RevoltadoBusão: Militantes de partidos políticos e movimentos sociais são investigados pela polícia potiguar

O RN parece viver tempos sombrios.  Como nos dias da ditadura, militantes políticos – de partidos e movimentos sociais – são investigados e monitorados pela Polícia devido à sua ação pública.
No contexto da investigação sobre a queima de ônibus durante a #RevoltadoBusao em setembro passado, eu e outros companheiros fomos elevados à categoria de investigados pela Polícia – ainda que não esteja exatamente claro qual crime a nós é atribuído, a não ser a cobertura ou a participação nos eventos.
No fim de agosto e início de setembro do ano passado, Natal foi revirada pela #RevoltadoBusao.  Estudantes e militantes de diversos movimentos sociais tomaram as ruas da cidade em um movimento organizado contra o aumento das passagens de ônibus – que passaram de R$ 2,20 a R$ 2,40.
O primeiro protesto, em 29 de agosto, saiu das proximidades do Natal Shopping e seguiu rumo ao Midway Mall.  Na esquina das avenidas Antônio Basílio e Salgado Filho, o Batalhão de Choque esperava os estudantes.  Ainda que o comandante da PM, Coronel Araújo, tenha dito em entrevista à tevê que os policiais haviam disparado apenas uma bomba de efeito moral e os estudantes seriam responsáveis pela derrubada de um fio de energia, os vídeos postados no Youtube comprovaram o contrário.
O episódio da violência desmedida da polícia reprimindo a manifestação fez com que o protesto de dois dias depois, 31 de agosto, fosse bem maior e percorreu cerca de 14 quilômetros em Natal.
No início de setembro a Câmara Municipal revogou o aumento concedido pelo Executivo – dando a impressão de que, mais uma vez, a ação popular nas ruas da cidade teria sido vencedora. No entanto, para a surpresa de todos, os empresários resolveram suspender as gratuidades do sistema alegando que a suspensão do aumento lhes provocou desequilíbrio econômico-financeiro.
É nesse contexto que ocorre o protesto do dia 18 de setembro. Nessa noite, dois ônibus foram incendiados e a culpa foi atribuída aos manifestantes. O professor Felipe Serrano foi preso e espancado pela PM – ao ponto de ter um dedo quebrado.
No dia 20 de setembro, já noticiávamos que o governo do Estado havia constituído uma comissão de três delegados especiais para investigar a #RevoltadoBusao.  Naquele momento, questionei o porquê tanta deferência ao movimento: “Afinal, três delegados para investigar manifestações sociais e a incapacidade de resolver crimes de morte ou desaparecimentos, como o do irmão do jornalista Cezar Alves, mostra que tem uma coisa muito errada aqui”.
Além disso, desconhece-se tanta energia e atenção para a apuração de chacinas ou homicídios.  Na 14ª DP, em Natal, por exemplo, em 2012 foram instaurados 57 inquéritos de homicídio, tendo apenas quatro sido elucidados – graças à confissão dos culpados.
Militantes sociais tratados como criminosos – assim como nos dias do Regime Militar. A inteligência da Polícia Civil chegou a sugerir que fosse solicitado ao twitter, facebook e outras redes sociais informações suficientes para identificar os IPs dos usuários que postaram informações sobre a #RevoltadoBusao.  Não consta do inquérito se a quebra de sigilo foi ou não solicitada.
Diversos militantes foram ou estão sendo investigados e há, no inquérito, dossiês sobre alguns deles.  Como, por exemplo, a atual coordenadora do DCE da UFRN, Danyelle Guedes.
A UFRN merece uma atenção especial da Polícia Civil. Além de ter a coordenadora do DCE sob investigação, lembremos da prisão da professora Sandra Erickson na noite de 18 de setembro pelo único crime de perguntar à PM porque os ônibus estavam sendo desviados. Além disso, em um relatório de inteligência afirma-se, como que para criminalizar a própria estrutura da Universidade, que a chamada comissão de segurança da #RevoltadoBusao se utilizava de rádio walk-talkies – coisa que pessoalmente não vi em nenhum evento.  O relatório ainda registra a presença do professor Robério Paulino, ex-candidato a prefeito pelo PSOL, na delegacia para prestar assistência aos detidos na noite do protesto.
Enquanto homicídios superam um ano sem ser esclarecidos, o inquérito contra um dos investigados na #RevoltadoBusao já foi concluído.
A investigação contra Felipe Serrano se encerrou, a denúncia foi apresentada pelo MP e recebida pela justiça na última sexta-feira. O governo do DEM reinaugurou o DOPS?
Com informações: Blog do Daniel Dantas

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