Quando me perguntam qual o maior problema do setor de transporte de Natal, eu não respondo que é a falta de mobilidade urbana – que automaticamente resulta em atraso nos ônibus; nem a tarifa defasada ou falta de subsídios; nem os altos impostos pagos pelas empresas e nem mesmo a falta de integração com a região metropolitana. Isso que listei (e muitas outras coisas) são problemas estruturais. Força de vontade e ações políticas resolvem tudo isso e nos dão dignidade ao transporte. O maior problema do transporte de Natal é da área operacional. Trata-se do Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Para ser direto: O sistema de transporte do Campus é pensado de maneira errada – tanto pelas empresas, como pelo órgão gestor e também usuários. O problema não é necessariamente a linha Circular. Talvez haja alguém que se assuste com a próxima afirmação, mas afirmo: O Circular não deveria ter mais que três carros em sua frota – exageradamente quatro. Atualmente sua frota é de sete veículos e uma prestação de serviço péssima! Defendo essa diminuição por entender que o Circular deveria ser um complemento das linhas urbanas que vão pelo Campus, e não as linhas do Campus serem um complemento do Circular – que é o que atualmente acontece no sistema. Enquanto essa ordem não se inverter, os ônibus da linhas continuarão a ser destruídos com a superlotação e teremos essa péssima prestação de serviço, tal como, infelizmente, é atualmente. E a culpa não é de empresa A ou B, é do sistema.
Mas como pensar em uma solução pra isso? Primeiramente, investindo nas linhas que passam pelo Campus. Cartão vermelho para as recentes ações locais, que retiraram as linhas 48 e 66 de dentro do Campus. O retorno delas é necessário e importante. No mais, a principal opção – linha 63 – iniciou o retorno do semestre com uma péssima prestação de serviço. Eu mesmo, na última semana, liguei para a empresa operadora – Conceição – diariamente para reclamar. A última que eu ouvi da atendente me fez perder as esperanças: fui informado que – pasmem – a empresa ainda está em tabela de férias, e a frota permanecerá reduzida até o dia 3 de março – apesar de as atividades no Campus já terem voltado desde antes o carnaval. Recuso-me a acreditar e deixo este espaço à disposição para que alguém da empresa ou do grupo na qual a empresa faz parte (Trampolim da Vitória/Itamaracá Transportes/Cidade Alta) ou até mesmo do órgão gestor desminta tamanho absurdo.
Pois bem. Há ainda soluções mais caras – que pela crise que o sistema vive, só nos convém expor, nada mais que isso: seria a reativação de linhas que circularam pelo Campus e foram extintas, como a linha 18 (Bairro Nordeste/Campus) – que ainda circula, em apenas dois horários; e até mesmo a antiga 53 (Serrambi/Campus, via Flamboyantes), bem como a (re)implantação integral de outras linhas, a serem pensadas. Há também soluções mais simples e baratas, que podem ser implantadas atualmente, como uma readaptação de horários dos ônibus das linhas 02 e 60 que têm algumas viagens com destino Campus. Por exemplo: até onde eu sei, o primeiro ônibus da linha 02 do período noturno que tem seu horário via Campus, chega à UFRN por volta das 19:30h. Se as aulas iniciam às 18:45h, lá se vão 45 minutos (em média) de atraso. Resultado: prejuízo para a empresa e para os usuários.
O fato é que toda a região do Campus é um polo de demanda imenso – com demandas que crescem semestralmente. Já pensaram o quanto as empresas lucrariam caso o Circular fosse uma linha tarifada? É possível fazer isso! Não com o Circular, logicamente, mas sim com demais linhas que eventualmente – basta ser eventualmente – circulem pelo Campus. Ações estratégicas e mãos a obra!
Mais uma?
Não sei desde quando está circulando, mas, ontem, no último domingo, vi a linha 63B. Pela rapidez do ônibus e atenção no trânsito, não consegui se quer prestar atenção qual era a definição da linha – Felipe Camarão/Cidade Jardim, Cidade Nova/Cidade Jardim ou sabe Deus e Nossa Senhora da Conceição quais mais opções. Do jeito que vai, logo logo a linha 63 completará 63 destinos. Pena estarmos vendo tão poucos carros no principal trecho com destino ao Campus.
Thiago Martins