Aproveitando a forte demanda na temporada de festas, as companhias aéreas salgam os preços das tarifas aéreas, obrigando os passageiros a trocar o avião pelo ônibus, que, com metedologia diferente, mantém os preços durante o ano inteiro. Ou a desistir da viagem. Preparado para voltar do Rio de Janeiro de avião, o técnico administrativo Franklin Coelho Dorneles, se assustou ao consultar os preços no site da companhia aérea, e por isso se viu obrigado a encarar as mais de seis horas que separam as capitais mineiras e fluminense no transporte rodoviário. “É inviável. Eu compro um computador com a diferença”, afirma. Também prejudicado, o aposentado Dorival Disessa vai passar o Natal longe da filha pela primeira vez. Ela mora em Recife e a passagem para BH nas vésperas do dia 25 estava quase R$ 5 mil. Como também tem o marido, o valor dobra. “Por que para ônibus tanto faz se chove ou se faz frio e o preço é mantido?”, questiona.
Especialista em setor aéreo, o professor associado da Fundação Dom Cabral, Hugo Ferreira Braga Tadeu, explica que a variação está relacionada ao fato das inúmeras variáveis que incidem sobre o custo operacional do transporte aéreo, enquanto no caso do rodoviário tem-se uma planilha fixa. Segundo ele, a frota das empresas de ônibus é própria, enquanto as companhias aéreas trabalham com sistema de leasing para quitar as aeronaves adquiridas. Com isso, o valor das primeiras passagens é usado para cobrir o custo fixo da operação, que vai desde o combustível até o aluguel do avião. Depois de pago esse custo, as demais tarifas se tornam mais caras e o valor arrecadado é usado para cobrir o custo variável e a taxa de retorno.
Mas não é só. Ele lembra que, apesar de a tarifa ser paga em real, a maioria das contas da empresa tem que ser convertidas para dólar e qualquer mudança de câmbio imediatamente induz a alteração no valor tarifário. Como o real está no menor patamar em comparação com o dólar desde maio de 2009, cotado a R$ 2,127, os gastos também aumentam.
Segundo dados das companhias aéreas, entre 30% e 40% do custo total está ligado ao gasto com querosene de aviação, o que com o aumento do valor do barril do petróleo no mercado internacional onera o custo de operação. No entanto, segundo o especialista, outros fatores precisam ser considerados para o aumento de tarifas que se registrou, como a condição da infraestrutura aeroportuária brasileira. Ele cita que desde o tamanho reduzido das pistas até o tempo de taxiamento da aeronave influenciam pesadamente no custo da tarifa. “Nas pistas de Congonhas, Santos Dumont e Recife, o processo de frenagem tem que ser mais brusco e o tempo de espera taxiando faz com que a turbina do avião esteja ligada para manter o ar condicionado em uso”, afirma o professor em tom crítico à situação da infraestrutura.
Diferença chega a 140%: Os preços das passagens aéreas para quem vai viajar nas festas de fim de ano podem variar até 140,3% no comparativo com os valores do ano passado, segundo pesquisa feita pelo Procon da Assembleia de Minas. O levantamento mostra que a passagem de Belo Horizonte para Porto Seguro, por exemplo, que custava R$ 616 passou para R$ 1.481 para embarque entre 26 de dezembro e 5 de janeiro.
A solução é pesquisar. A variação de preços para um mesmo destino pode chegar a 228% dependendo da companhia aérea escolhida. Se a opção for por Ilhéus, também no litoral da Bahia, a tarifa pode custar R$ 1.063 a mais. Comprando na Gol, o bilhete custa R$ 465,85, mas se a companhia escolhida for a TAM o preço para ida e volta é de R$ 1.528,52.
Como na casa da diarista Iris Medeiros são sete pessoas. Por isso, qualquer economia na hora de viajar é válida. Por isso, depois de ouvir os comentários da patroa sobre os preços das passagens aéreas, nem mesmo consultou a internet para ver quanto pagaria. “Em julho, fomos de avião, mas agora não tive nem a curiosidade de olhar. Já sabia que não cabia no bolso”, afirma ela.
Fonte: Estado de Minas