Se no território brasileiro a fabricante gaúcha conquistou posição consolidada, sem que precisasse de grandes mudanças de estratégia, no exterior a palavra de ordem para se manter competitiva foi, desde o início, adaptação. Nos últimos 14 anos, quando deixou de ser apenas exportadora para também produzir no exterior, a Marcopolo mudou radicalmente de estratégia em três momentos. “Competitividade virou sinônimo de mudança na nossa cartilha”, diz o executivo.
Estratégia: A Marcopolo começou a exportar seus produtos para os países vizinhos em 1961. Como as dimensões de um ônibus não são nada modestas, a empresa desde cedo tentou fugir do frete e colocou a encomenda literalmente na estrada. “À medida que começamos a enfrentar dificuldades com o câmbio e com o protecionismo dos países que compravam nossos produtos, passamos a exportar ônibus desmontados”, conta Zignani. A montagem era feita em parceria com empresas locais, por meio de joint ventures. “Essa foi a saída que muitas empresas brasileiras encontraram para vencer os obstáculos à competitividade”, diz Erik Camarano, diretor-presidente do Movimento Brasil Competitivo.
Para driblar as barreiras tarifárias, a Marcopolo montou sua primeira operação fora do Brasil em 1998, na Argentina. Mas não foi a montagem de ônibus em outros países que fez da companhia uma empresa globalmente competitiva. Afinal, ela continuava dependendo de componentes nacionais. O passo seguinte foi comprar esses componentes fora e, depois, partir para aquisições de unidades já existentes. Hoje, a fabricante gaúcha tem fábricas no México, Colômbia, África do Sul, Índia e Austrália, além de uma joint venture na Rússia e uma unidade que produz componentes na China.
Na Índia, parceira da gigante Tata, é onde está o mercado mais competitivo da Marcopolo. Lá, o custo para produzir um ônibus é 60% inferior ao do Brasil. Só neste ano, a empresa deve produzir 8 mil veículos no mercado indiano – volume que representa 25% de toda a produção da Marcopolo. “Mas ainda está longe de representar esse porcentual do faturamento, porque lá o preço do veículo também é muito inferior”, diz Zignani. As encomendas na Índia são basicamente de veículos mais simples, sem ar-condicionado. “Já nos pediram até um ônibus sem portas, que fosse mais barato.”
Esse a Marcopolo se recusou a fazer por questões de segurança, mas é uma política da empresa adaptar seus produtos ao mercado consumidor para poder brigar de igual para igual com os competidores locais. No Oriente Médio, por exemplo, a empresa fez sob medida um ônibus com o teto removível para atender os peregrinos que todos os anos visitam as cidades de Meca e Medina no mês do Ramadã. Durante o trajeto, eles não podem ter nada sobre suas cabeças.
Fonte: O Estado de S. Paulo