Interdição do Viaduto do Baldo: Enquanto CREA e MP não se entendem, não há fiscalização

Uma semana após a interdição oficial do Viaduto do Baldo, principal via que interliga a Zona Leste à Zona Sul da cidade, por onde trafegam diariamente cerca de 3.500 veículos, a medida adotada pela Secretaria Municipal de Obras Públicas (Semopi) ainda gera polêmica entre as entidades envolvidas no assunto.

Apesar de a solicitação ter partido do Ministério Público, através da Promotoria de Meio Ambiente, instituições como o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura), após realizar vistoria técnica no local, sustentam que não havia necessidade de intervir no equipamento.

A promotora de Meio Ambiente, Rossana Sudário, lembrou ontem que a petição protocolada se baseou em um laudo técnico realizado pela prefeitura em 2009. De acordo com a petição, certos trechos do viaduto já estavam comprometidos, com a ocorrência de flechas no asfalto com cerca de 10 cm. “Um viaduto de 40 anos e que nunca foi restaurado só poderia apresentar uma situação dessa. Mesmo que não corresse o risco iminente de cair, é dever das instituições como o Crea garantir a prevenção e a segurança da obra”, ressaltou Sudário.

As críticas da promotora foram direcionadas ao laudo expedido pelo CREA, no mês passado. Em vistoria realizada antes da intervenção, o conselho opinou contra a interdição. Segundo o ouvidor do CREA, engenheiro Eunélio Silva, não haviam avarias graves, como ruptura de vigas e fissuras que justificassem a intervenção. “Alguns recobrimentos da estrutura já estavam aparentes, mas uma coisa é considerar esse problema, outro é ir a público afirmar que a obra vai cair. A promotora deveria ter solicitado um novo estudo ao invés de se basear em um de 2009”, rebateu o engenheiro.

Apesar da crítica, o engenheiro ressalta que, de fato, já estava na hora de realizar um estudo no viaduto. “A partir de agora, a Semopi tem que fazer uma série de análises, como avaliar a resistência do concreto, diferenças de nível entre tabuleiros e realizar as medidas necessárias para melhoria na obra”, analisou Silva.

A reportagem do Novo Jornal visitou o viaduto na manhã da última quarta-feira e constatou que, embora o tráfego da região tenha sido desviado para rotas alternativas, não havia fiscal ou técnico trabalhando no local.

De acordo com informações concedidas pela Semopi e publicadas pelo Novo Jornal na semana passada, os estudos técnicos iriam começar na última segunda-feira, envolvendo cerca de dez profissionais, entre engenheiros e especialistas, responsáveis por uma análise mais aprofundada dos problemas da estrutura.

O Novo Jornal tentou contatar a secretária Teresa Cristina Vieira para obter informações sobre o andamento do estudo, mas ela esteve em reunião e não deu retorno à reportagem até o fechamento da matéria. A assessoria de imprensa da pasta também não soube informar como está o andamento do estudo técnico.

Motoristas reclamam da falta de fiscais: O processo de intervenção da obra também envolveu a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), que ficou responsável por redirecionar o tráfego da região. De acordo com um estudo prévio realizado pela secretaria, cerca de 3500 veículos trafegam diariamente pelo viaduto.

Na semana passada, defensas (estruturas de concreto) foram colocadas na via para impedir a passagem de veículos, e guardas de trânsito – os chamados “amarelinhos” – realizaram fiscalização no local para orientar os condutores. De acordo com Carlos Eugênio Barbosa, inspetor de trânsito da Semob, somente no início da intervenção foi registrado um congestionamento, principalmente nas avenidas Mermoz e Deodoro da Fonseca – rota alternativa que tem sido utilizada pelos motoristas que vêm da Zona Sul em direção ao centro da cidade. Os fiscais auxiliaram na orientação aos motoristas mas, a partir desta semana, eles não permaneceram na região.

Segundo o secretário adjunto de Mobilidade Urbana, Haroldo Maia, esse foi o acordo entre as duas secretarias envolvidas na interdição: a Semob realizaria a fiscalização inicial do trânsito na área e a Semopi ficaria responsável pela análise da estrutura. “Não há necessidade de fiscalização contínua da secretaria, porque a maior parte dos motoristas já está avisada. Se não sabe, é falta de atenção”, afirmou Maia.

Alguns motoristas, no entanto, relatam seu descontentamento com a situação. Fábio Dias, 30, é motorista de uma empresa que realiza entrega de pescados no Centro e no Alecrim. Ele tentava pegar o desvio da Avenida Mermoz e entrar para o Viaduto do Baldo quando, por fim, percebeu as defensas amarelas que impediam a passagem. “Eu sei que é necessário, mas a rotina fica diferente para o motorista. Ainda não tinha ouvido falar na interdição e não há nenhum anúncio ou fiscal informando o que a gente pode fazer. O pior é que isso só aumenta a demora da entrega, fora o congestionamento que a gente pega no centro da cidade”, reclamou.

O motorista afirma que gastará cerca de 10 minutos a mais em cada entrega – sem contar os períodos de pico no trânsito da região.

E ele não é o único a reclamar. O frentista Naldo Maciel, 23, trabalha em um posto de combustível que funciona embaixo do viaduto e afirma que muitos motoristas têm reclamado do desvio. “O pessoal [fiscais] só veio interditar no primeiro dia, depois sumiu, Teve muito motorista reclamando, principalmente aquele que usa o viaduto para ir ao Centro ao Alecrim. Ontem mesmo teve um rapaz que bateu numa das defensas, mas deu sorte e não aconteceu nada”, relatou Maciel.

Foto: Argemiro Lima (Novo Jornal)
Fonte: Novo Jornal

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