Busscar: cerca de 400 funcionários são demitidos e deixam a fábrica com sentimento de tristeza

Foto: Salmo Duarte / Agência RBS
As cabeças baixas dos trabalhadores indicavam o clima de silêncio fúnebre no complexo fabril da Busscar. Além do emprego, os cerca de 400 funcionários ativos sinalizavam o sentimento de tristeza e revolta por verem morrer uma das maiores empresas do País na década de 90.

O comunicado na portaria da empresa informa “local lacrado por determinação de juízo da 5ª Vara Cível”. Agora, do lado de dentro daqueles portões, eles só poderão retirar a carteira de trabalho com a anotação da demissão.

As reações variaram de piadas para descontrair o momento a lágrimas desesperadas acompanhadas de soluços. O choro quieto e dolorido do montador de componentes Edgar Ribeiro transmitia a indignação de não poder voltar a realizar sua atividade dentro da fábrica.

— Era como se fosse uma família. Acredito nesta empresa e tenho esperança no recurso.

Outros colegas compartilharam da opinião de Edgar. Apesar do silêncio durante a reunião no auditório da empresa, com o interventor judicial, Rainoldo Uessler, as vozes do lado de fora dos muros da Busscar lembravam a importância da companhia.

— É uma pena. Tínhamos coisas em produção e não pudemos nem terminar o trabalho. Tivemos que sair e deixar tudo lá. Se tivéssemos capital de giro, conseguiríamos produzir muito mais —, diz Vilmar da Silva, que era monitor de fábrica.

— É um sentimento geral de revolta. São muitos postos de trabalho vazios —, argumentou o gerente Esbaldini Testoni.

A cena mais comum em frente à Busscar foi a despedida. Quanto maior era o tempo de trabalho na empresa, mais apertado era o abraço entre os companheiro.

Os esquematizadores Anselmo de Sousa, com 19 anos de trabalho, e Vilson Ochner, que estava na Busscar há 27 anos, reservaram alguns minutos para relembrar os tempos de glória.

— Tudo o que a gente tem deve a essa empresa. Dá para ver no olhar dos colegas a tristeza —, conta Sousa.

— Com o seu Haroldo era tudo muito diferente. Quando ele morreu, a gente sabia que ia mudar alguma coisa, mas não fazia ideia que ia chegar nesse ponto —, disse Ochner.

Depois de lágrimas, despedidas e desabafos, todos seguiram com o mesmo propósito.

— Eu preferia ficar trabalhando. Mas não deu. Então, agora é correr para frente —, lamenta o montador de componentes Jean Manoel Marcos.

O sol do início da manhã deu lugar a nuvens cinzentas e chuva forte. A muvuca se dissipou. Entre as pessoas que conseguiram lugar na marquise da portaria, um funcionário, na tentativa de criar um cenário mais otimista, finaliza a série de comentários do dia trágico para os funcionários.

— Desempregado, sim. Molhado, não.

Fonte: A Notícia

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