Talvez ainda seja cedo para dizer o adeus, mas, com a notícia da falência da montadora Busscar veiculada ontem, é também impossível não dizer esse adeus. A Busscar ficará – já faz parte, na realidade – na memória de todas as pessoas que tem gosto por ônibus, por transporte. Aquela montadora de qualidade ímpar, que sempre fez inveja às suas concorrentes; Que deixava os frotistas babando por seus produtos e conseguia demonstrar que valia a pena fazer compras na montadora que fabricava os ônibus mais caros do mercado – junto a uma manutenção também de alto valor; mas que também trazia seu diferencial em um acabamento inigualável dos ônibus em que produzia.
É incrível como uma ação compromete tantas questões relacionadas às nossas vidas. A crise da Busscar teve seu início em 1998, com a morte de seu fundador, Harold Nielson. Nada podemos fazer contra a morte; é uma causa natural e a única certeza que temos na vida. O mundo segue, e nos obriga a continuar agindo. Assim fez família Nielson, que optou por terceirizar a administração da Busscar, levando a empresa à crise. Pode-se dizer que foi salva pela própria família, que por pouco não viu a empresa desaparecer. A Busscar se reergueu e quando já estava prestes a dar novos passos com as próprias pernas, fatores muito maiores que ela a derrubaram. A crise de 2008 foi crucial e derrubou de vez aquela que já foi uma das maiores montadoras do país. De lá pra cá, muita confusão e pouco ônibus; imensas brigas entre o sindicato dos mecânicos de Joinville – sua cidade sede – e a empresa; briga com os bancos, seus credores; demissões; aumento de dívidas; dificuldade e escassez na produção de ônibus; uma situação lastimável que só demonstrava um futuro incerto.
Talvez procurando maquiar essa situação, a Busscar demonstrava que ia tudo bem. A crise, na fábrica – especificamente – era algo isolado. As demais empresas do grupo estavam bem – a própria subsidiária da Busscar na Colômbia, produzindo de vento em popa. Eram veiculadas notícias de uma produção deficitária, de fato, mas que existia. Até mesmo novos modelos de ônibus foram lançados. Parecia que tudo ia bem; que tudo ficaria bem. Não foi o que aconteceu. É válido lembrar que a ideia da recuperação, de fato, existiu. Por qual outra razão, de fato, Marcopolo e Caio pretendiam, juntas, inaugurar uma unidade de produção conjunta logo em Joinville? Seria uma eutanásia da Busscar. Não foi preciso. O brasileiro, povo que, apesar de muito manipulado pela mídia, melhorou seus ideais de questionamento – em grande parte, pelo investimento na educação; principalmente no ensino superior – e assim somos, hoje, questionadores de casos atrelados à corrupção – também propagada em nosso país. Já há o questionamento; a falência não teria sido um comedido meio encontrado pelas concorrentes para ver a Busscar fora do jogo?
Não é tão simples obter tal resposta. Talvez sim, talvez não. Há de considerarmos, principalmente, os valores pessoais; os funcionários, pessoas que tiravam seu sustento da Busscar; mas há os valores financeiros que falam imensamente altos no capitalismo que vivemos – e a Busscar, aquela pedra no sapato das concorrentes, em crise, melhorou e muito a receita de suas concorrentes. Seja a suposição que for; contra fatos não há argumentos; e o fato é que a Busscar estava morta. Apenas faltava alguém para desligar os aparelhos. Desligaram.