Editorial UNIBUS RN: O ioiô com cheiro de queimado do “Passe Livre”

Todos os natalenses, obviamente, foram surpreendidos no final de semana passado com a suspensão, anunciada pelo SETURN, do programa “Passe Livre”, que dá direito a quem tem o cartão de bilhetagem eletrônica andar em dois ônibus pagando apenas uma tarifa.
Atualmente, tal sistema é vital em uma cidade onde muitos locais não são bem servidos de linhas de ônibus e/ou algumas localidades estão com déficit nas linhas daquele local. Com certeza, os moradores do Nova Natal, Cidade Praia e quem precisa ir para a UFRN estando no bairro do Tirol se sentiram os mais prejudicados.
Prejudicados com razão. Como foi dito acima, a integração temporal hoje é vital nesta cidade. Se, hoje, quase dois milhões de deslocamentos são feitos através da integração, mostra o quanto Natal não é bem servida de linhas de ônibus. Enquanto bairros como Felipe Camarão têm nove linhas para todos os cantos da cidade, Nova Natal hoje só tem duas, e para o centro (Isso enquanto as linhas 03 [Campus] e 28 [IFRN] não voltarem).
Este, caro leitor, foi um ato impensado por parte do SETURN. Apesar do “desequilíbrio financeiro” alegado para a suspensão, muitos não têm condição de pagar uma ou duas passagens a mais por dia nesses deslocamentos e, com certeza, se veriam em apuros com tanto dinheiro gasto em transporte – talvez tal desequilíbrio não fosse sanado logo. O apuro que o natalense passou nesta semana mostra o quanto nosso sistema de transporte público precisa de uma reformulação, sobretudo na realização da licitação, para que todos os bairros sejam bem atendidos.
Mas, aí, a indignação vira revolta, revolta gera protesto, e, infelizmente, perde-se o controle sobre uma manifestação. De maneira covarde, lamentável e incompreensível, dois ônibus foram queimados em nossa cidade ao final de uma manifestação pedindo a volta do “Passe Livre”. Um deles, inclusive, foi comprado este ano e foi noticiado aqui no UNIBUS RN.
Como já foi dito em um editorial anterior, protestar é válido e estamos precisando de grandes mobilizações populares. Mas, não deste jeito. Gritar palavras de ordem, botar nariz de palhaço, mostrar cartaz, vale, mesmo interrompendo vias de grande circulação. Porém, pichar ônibus, depredá-los e queimá-los é totalmente repugnante.
Infelizmente, tais atos mostram que a sociedade se mostra hipócrita em alguns casos. Imagina-se que, com certeza, as mesmas pessoas que queimaram estes ônibus (se não forem presas, o que é bem difícil), vão protestar no Bairro Nordeste e no Gramoré (bairros que tem, como ponto final, os ônibus queimados) sobre a falta de ônibus à noite, frota reduzida, dentre outras coisas. E aí, como fica a consciência destas pessoas? É pra pensar.
Então, esperamos que os acontecimentos desta semana fiquem de lição para todos os envolvidos.
Para os políticos, para que não brinquem com a população, autorizando aumentos abusivos e que doam no bolso do trabalhador.
Para os manifestantes, que sejam um pouco mais “educados” em não depredar nenhum tipo de patrimônio, seja público ou privado, nos seus protestos (Ah, e sem queimar nada também).
E, finalmente, para os empresários, para não fazerem o povo gastar o que muitas vezes não tem, fazendo serviços como o “Passe Livre” de ioiô – vai e volta, parando e voltando – e servindo muito bem a população no já defasado sistema de transporte público de Natal.

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