RS perde investimentos de fábricas de ônibus

Responsável por mais de 50% da produção nacional de carroçarias de ônibus, o Rio Grande do Sul deve perder rapidamente a condição de líder neste mercado. As grandes encarroçadoras do Estado confirmaram investimentos de R$ 235 milhões na construção de novas fábricas em três diferentes estados da região Sudeste. Caminho idêntico segue a Randon, maior fabricante de implementos rodoviários do Brasil, com mais de 35% da produção nacional, que já investiu em nova planta e na aquisição de unidades fora de Caxias do Sul. No seu plano de investimentos de R$ 2,5 bilhões para os próximos cinco anos, metade ficará no Rio Grande do Sul.

Este movimento na indústria metalmecânica gaúcha, especialmente no segmento automotivo pesado, se assemelha ao ocorrido na década de 1990, quando a atividade calçadista iniciou a migração de plantas para cidades do Nordeste, atraída por incentivos fiscais e em busca de maior competitividade para fazer frente aos concorrentes estrangeiros. Ao final daquela década, a região Nordeste já respondia por mais de 60% dos volumes físicos exportados.

A migração do segmento metalmecânico, no entanto, decorre muito mais por questões estruturais do Rio Grande do Sul e pela necessidade de aproximar-se dos principais mercados consumidores e do parque de fornecedores. Embora os empresários evitem dar destaque em demasia aos incentivos fiscais de estados e municípios, reconhecem que eles facilitam a definição.

O diretor-geral da Comil Ônibus, de Erechim, Sílvio Calegaro, entende que este movimento não é novo. Ele lembra que os maiores fabricantes de modelos urbanos, que a Comil produzirá em Lorena, interior de São Paulo, já estão estabelecidos na região Sudeste.

A Marcopolo, líder do segmento no Brasil, tem fábrica em Xerém, no Rio de Janeiro, desde 2001, quando adquiriu a Ciferal. A Caio está localizada em Botucatu (SP) desde a década de 1940. Em janeiro de 2001, foi adquirida pelo Grupo Induscar, tornando-se a Caio-Induscar,  maior encarroçadora de veículos urbanos do Brasil. O segmento de urbanos convencionais é de baixo valor agregado, com valores variando de R$ 100 mil a R$ 120 mil. Só o movimento de vai-vém de chassis do Sudeste para o Sul representa de 5% a 6% do custo, exemplifica o diretor.

A unidade da Comil, que iniciará seu funcionamento ao longo de 2013, está localizada a 80 quilômetros da MAN e a 180 quilômetros da Mercedes-Benz, as duas maiores fabricantes de chassis do Brasil. Erechim, como comparação, fica a 1,2 mil quilômetros das montadoras. Além disso, estará próxima dos principais fornecedores de insumos básicos para a produção de carroçarias e dos grandes mercados consumidores urbanos: Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, que concentram cerca de 60% do total das aquisições de ônibus para transportar pessoas em cidades. “Vamos produzir um ônibus com qualidade acima do oferecido atualmente ao mercado, com preço mais acessível”, acrescenta. Não é intenção da Comil, pelo menos inicialmente, usar a fábrica de Lorena para exportação.

A Neobus, líder nacional na fabricação de micro-ônibus com mais de 50% da produção, investe R$ 90 milhões em uma fábrica na cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro. Anunciada em fevereiro, a unidade deve iniciar a produção até o final deste trimestre, com a geração de 1,2 mil novos empregos e capacidade para até 13 ônibus por dia.

O presidente da Neobus, Edson Tomiello, destaca que o objetivo é preparar a empresa para atender as demandas decorrentes da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Além disso, o Rio de Janeiro é hoje o principal mercado da encarroçadora, especialmente de micro-ônibus. Também pesaram na decisão os benefícios tributários concedidos pelo governo do Rio e pela prefeitura. Em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia do estado, o município construiu um Centro Vocacional Tecnológico, preparado para formar 2,4 mil pessoas por ano em 16 cursos técnicos para atender a demandas da Neobus e do polo automotivo de Resende e Areal, distantes em torno de 100 quilômetros.

A construção de unidade em Três Rios também objetiva abrir espaço na fábrica de Caxias do Sul para atender ao novo negócio da Neobus. A empresa, em conjunto com a Navistar, produzirá ônibus completos sob a marca NeoStar. O foco inicial serão os mercados dos Estados Unidos e América do Sul. Com estas ações, a meta de faturamento para 2014 é de R$ 1 bilhão, quase o dobro dos valores de 2011.

Mudança só deve ser tomada via decisão política: Para a economista e professora da Universidade de Caxias do Sul Carolina Gullo, a migração de empresas gaúchas para outros estados é difícil de ser contida em função das condições atuais do Estado, especialmente as de natureza financeira. Ela recorda que mais de 80% da arrecadação são usados para pagar o funcionalismo, outros 17% para o custeio da máquina e 18% para quitar as dívidas com a União. “Não há margem para negociar com as empresas”, enfatiza.

A economista destaca que a solução terá que vir a partir de mudanças na matriz da dívida, e reconhece que é uma decisão política que desgastará quem a fizer. “Mas não haverá outro jeito. Alguém terá de assumir este ônus para o Rio Grande se recuperar.”

O diretor de relações com investidores da Marcopolo e integrante do Conselho de Economia, Estatística e Finanças da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, Carlos Zignani, reconhece que o Rio Grande do Sul perderá empregos com este movimento. Também vê que o governo está preocupado com a situação, mas não tem agido para resolver o problema. Por enquanto, são apenas medidas paliativas.

Foto: Portal Transporta Brasil

Com informações: Jornal do Comércio (RS)

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