Confesso-lhes que não sei nem por onde começar qualquer discussão sobre a falência da Viação Riograndense. Acho que não dá para negar: Hoje, nossos pensamentos se voltam para a licitação do transporte urbano de Natal, e a Riograndense era a incerteza quanto a esta licitação. A empresa estava enfrentando uma crise, e isso se refletia em suas operações. Por mais que tentasse reagir, era, como classificada pelo empresário Augusto Maranhão, “um doente em fase terminal”.
E assim, o marrom da incerteza caiu no branco da casa. Primeiro com a suspensão da linha 45, há cerca de 15 dias atrás, e no início da semana a paralisação de todas as atividades da empresa. Aquela que já fora uma das maiores e melhores empresas de ônibus do estado – respeitada pela qualidade de seu serviço, como destaque do próprio site da empresa – se via fechando as portas. É complexo observarmos este ‘antes e depois’ da empresa. Ainda que não se tenham dados concretos sobre o ‘antes’ e só possamos afirmar as questões que envolvem o ‘depois’. Mas, vamos lá! No ‘antes’, víamos uma empresa promissora, empreendedora, tradicional, pedante; Uma verdadeira aposta no setor de transportes. Aquela que dominava a região metropolitana de Natal, quando, nem se quer se discutia o contexto de região metropolitana. Vieram os fatores externos e cobriram os avanços; o DER/RN (Departamento de Estradas e Rodagens) se sucateava – até hoje ainda vive completamente falido – e foi como um vírus, matando as empresas e infectando até mesmo a grande promessa Riograndense.
Então chegamos ao ‘depois’. Uma era que começava com o que o restava do ‘antes’; A boa estrutura, os bons ônibus, as boas linhas. Mas a infecção a levava a corrosão. Lá estava a Riograndense com ônibus quebrados pelo trajeto das linhas; ônibus aparentando má conservação; horários atrasados, funcionários trabalhando sem fardas. Internamente, dívidas trabalhistas sem poderem ser pagas; bens bloqueados; ônibus comprado em nome das outras empresas. Isso fez da Riograndense uma guerreira: mesmo quando tudo ia contra, ela fazia por onde e sempre estava presente. Mas também a fez uma vilã, não podemos negar; Quantos e quantos cidadãos chegaram atrasados em seus trabalhos devido os ônibus quebrados? E os funcionários; alguns tiveram que entrar na justiça para conseguir, ao menos, se aposentar; outros, a empresa ‘mandava pra casa’ e pagava um salário fixo, pois não tinha mais condições de pagar seus direitos trabalhistas, caso houvesse a recisão trabalhista.
E saibam que este fim da empresa foi apenas o fim do ‘depois’. O fim do ‘antes’ começou há muito tempo: quando vimos a Riograndense diminuir significativamente suas operações – um processo natural – entregando linhas, já que não tinha condições de concorrer com os clandestinos; e decaindo a qualidade dos seus serviços. Só temos a lamentar por este fim e nos envergonhar que uma situação desse tipo aconteça em nosso estado – resultado do ‘antes’; e aprofundado pelo descaso e falta de investimento do transporte municipal – situação perniciosa do ‘depois’. Humilhante! Deprimente!
Bem lembrado!
O sempre atento Helckton Fernandes, especialista de ônibus de Natal e colaborador aqui do Unibus RN, fez uma observação interessante na comunidade Ônibus Coletivo de Natal/Orkut: Em meio à demissão em massa dos cobradores de Natal, parece que a empresa Nossa Senhora da Conceição continua sem mandar os trabalhadores embora. Isso porque alguns ônibus de grande porte da empresa perderam seu posto de cobrador, de fato, porém eles estão substituindo micro-ônibus que foram aposentados. São os veículos que foram fixados nas linhas 22, 71 e 600 – que tinham grande quantidade de micros que foram substituídos pelos veículos maiores. Serão vestígios da tão boa operação consagrada da pernambucana Itamaracá?
Mais pernambucano impossível!
A Trampolim da Vitória recebeu alguns ônibus usados das suas acionistas pernambucanas Itamaracá Transportes e Cidade Alta. Os veículos, dos modelos Svelto e Apache VIP I, foram direcionados para as linhas B (que, de fato, estava precisando de ônibus maiores!) e G, que ainda utilizam o cobrador, e não tiveram o posto do cobrador modificado nas carrocerias: continua do mesmo jeito que o sistema de Recife pede, com seis assentos antes da roleta. A mudança é extremamente significativa; há anos a Trampolim da Vitória não recebia ônibus se quer com posto para cobrador, e todo o sistema metropolitano também aboliu os assentos antes da roleta. Se a moda pega…
Thiago Martins