Essa tentativa de convencimento de usuários e autoridades é a tarefa complicada de Adalberto Maluf, diretor da cidade de São Paulo dentro do grupo internacional C40, que reúne as 40 maiores cidades do mundo na troca de experiências sustentáveis. Além de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba integram o time no Brasil, esta última como afiliada.
O C40 não é grupo só de retórica: na Rio+20, em junho, liderados pelo prefeito de Nova York, Michael Blooomberg, 40 mandatários, que representam quase um quinto do PIB mundial, assinaram um ousado acordo de emissão de carbono, enquanto as grandes potências se recusaram a fazer o mesmo.
Agora, Adalberto Maluf defende que há bons exemplos de transporte aplicados nas grandes metrópoles de outros continentes que devem ser replicados aqui. A perspectiva do C40, segundo ele, é que o custo benefício do futuro está nos chamados “Bus Rapid Transit” (BRT), corredores com sistema de pagamento antecipado comuns em Curitiba e com poucos exemplos em São Paulo e outras cidades brasileiras.
Confira abaixo se os argumentos de Adalberto Maluf e do grupo internacional o convencerão a andar de ônibus:
EXAME.com – Por que o BRT é a melhor solução?
Adalberto Maluf – A C40 fez um estudo em todas as grandes cidades do mundo, inclusive nas que não fazem parte da C40, e comparou os benefícios de investimento seja na viabilidade técnica, política, financeira e operacional do empreendimento. Considerando todos esses fatores, percebeu-se que as cidades que apostaram em corredores de ônibus BRT – que não são simples faixas de ônibus, mas corredores completos, com pagamento antecipado, estações com conforto, calçadas, paisagismo, ônibus mais limpos e articulados, que seguem horários com linhas expressas e semiexpressas – tiveram benefícios maiores, seja porque realmente entregaram o serviço no prazo, seja porque não tiveram grandes aumentos de custo (durante a obra) e conseguiram transportar as pessoas.
EXAME.com – A recomendação do C40 é que São Paulo priorize o BRT em vez do metrô?
Maluf – Claro. Daqui pra frente, o custo marginal de cada nova linha do metrô vai ser muito alto. Porque as principais, que tem maior demanda, já foram feitas. Então qualquer nova linha, por exemplo, a laranja, vai ter um custo muito grande. Neste caso, de 10 bilhões, para levar 300 mil pessoas a mais, sendo que o que se adiciona ao sistema é a metade, 150 mil. O custo por passageiro adicional ao metrô agora vai ser muito alto, porque as linhas mais ocupadas já foram feitas e cada vez mais as linhas novas terão menos demanda. Mas o custo para fazer em uma cidade já consolidada é muito mais alto. A gente acredita pela experiência das cidades C40 que a maneira mais eficiente de você criar esta rede prioritária que integra todos os cantos da cidade e promove um aumento da produtividade é pela superfície.
EXAME.com – E qual seria a desvantagem do metrô diante deste sistema?
Maluf – O sistema metroviário não consegue atingir o objetivo prioritário da mobilidade que é uma rede integrada. Porque ninguém mora do lado do metrô e trabalha do lado do metrô, a não ser uma porcentagem muito pequena. Cerca de 82% das pessoas que pegam este meio chegam até ele de ônibus. O sistema de mobilidade precisa de capilaridade e integração modal. No metrô, toda vez que uma linha cruza a outra, as pessoas têm que descer e trocar de linha. Quando você tem várias paradas, o metrô tem que aguardar o que está na frente. Já o ônibus tem flexibilidade, pode simplesmente ultrapassar o outro que está parado se estiver em uma linha expressa, o que aumenta a velocidade operacional. O Expresso Tiradentes, em São Paulo, que é uma linha segregada, tem velocidade aproximada de 38 km/h, que é 60% mais rápido que todos os metrôs do mundo. Com exceção do metrô de Londres, nenhum outro tem capacidade de fazer linha expressa que permite ultrapassagem.
Fonte: Revista Exame