Passamos a viver a era do desconforto! Infelizmente! É cada vez maior o número de empresas que adere às configurações de bancada de fibra para ônibus comprado novos – e, logicamente, cada vez menor o número de empresas que ainda trabalha com bancada acolchoada em seus ônibus. Não há dados concretos sobre isso, mas é uma prática vista e vivenciada no decorrer dos anos. Em Natal as mudanças foram mais bruscas – dormimos com bancos acolchoados, e acordamos com bancos de fibra; bem como algumas empresas sempre mantiveram a prática da compra de ônibus mais confortáveis. Porém em sistemas mais desenvolvidos (não muito longe), como Recife e Fortaleza, as mudanças aconteceram paulatinamente. Em Recife, a maioria das operadoras foi trocando aos poucos as bancadas acolchoadas por fibra nos novos ônibus. Em Fortaleza, não há mais, se quer, a parte acolchoada do banco de fibra. Terrível!
As empresas da Região Metropolitana de Natal que ainda investem no conforto merecem ser citadas (faço questão, aliás!). Cidade do Natal/Cidade das Dunas, Parnamirim Field, Viação Campos e a empresa que poderá se tornar o maior paradoxo do estado em relação a esta questão: Empresa Barros. A Barros está passando por algumas mudanças operacionais, e muito provavelmente também integrará a ‘era do desconforto’ nas próximas compras de ônibus zero quilômetro. Considero este possível paradoxo, pois a Barros tem um diferencial ainda maior em seus ônibus (além dos bancos acolchoados): Cortinas – algo extremamente útil em tempos de sol e calor escaldante (todo o ano, diga-se de passagem) e que todas as empresas – do próprio segmento urbano – deveriam ofertar em seus ônibus. Temos também dois casos que foram duramente sentidos: Trampolim da Vitória e Nossa Senhora da Conceição. Ambas as empresas agora pertencem a um grupo empresarial pernambucano que segue a linha das renovações com bancadas de fibra e que, antes de serem adquiridas, fizeram seus investimentos em ônibus mais confortáveis. Em relação à Trampolim da Vitória, por exemplo, não me recordo de nenhuma compra que a empresa tenha feito antes de ser vendida que os ônibus não tinham bancos acolchoados.
Mas a questão vai além. O que se pode notar é que o contexto de conforto foi mudado. As empresas migraram para o banco de fibra, pois, por serem menores, há mais espaço, o que resulta em mais fileiras de bancos, e automaticamente haverá mais usuários sentados. De fato! Só não há, no caso, o conforto para os usuários sentados. Além disso, uma vez mais usuários sentados, caberão mais usuários em pé… E o contexto do conforto se perde definitivamente. Claro, há o forte argumento da redução de gastos: É necessário trocar a costura da bancada de ônibus acolchoados quando rasgados por vândalos (o que infelizmente ainda acontece!). Mas há também a questão de certa falta de estrutura dos bancos de fibra. Algumas empresas de Natal já estão tendo que trocar bancos de fibra de seus ônibus pela degradação. Já é comum vermos nos ônibus alguns bancos com aspectos de ‘deitados’ – resultado da força empregada pelo passageiro do banco que fica atrás daquele e, ao se levantar, naturalmente emprega sua força no apoio do assento da frente. Isso, aliás, resulta em mais desconforto para o usuário que senta atrás de um desses bancos quebrados, bem como para o usuário que anda ‘deitado’. O aperto se torna ainda maior.
Parece mesmo que o barato está passando a sair caro. E confesso-lhes duvidar que as empresas voltem atrás nessa questão. O máximo que poderá e deverá ser proposto é a ideia de um sistema opcional, com ônibus amplamente confortável e, claro, uma tarifa diferenciada. Conforto que é bom nada! Bem vindos à era do desconforto!
Thiago Martins