Desde que foi proposta a ideia do Portal Unibus RN e estruturada a criação desta coluna, muitos amigos me pediram para tratar a ‘extinção’ da função de cobrador aqui no estado. Sinceramente, eu nunca quis tratar do assunto e nem pretendo aprofundar tanto. Não quero dar palco para a briga sindical versus empresarial. Acredito que tudo na vida tenha seus ‘dois lados’. O cobrador agiliza bastante a operação nos ônibus; Porém, no Brasil, a função é praticamente ‘cultural’ (visto que em outros países não existe tal função nos ônibus).
É notório que a meta socioeconômica mundial das empresas (de todos os segmentos) é reduzir gastos. Poder, o máximo possível, substituir homens por máquinas. E isto recai, logicamente, para a ‘cultura cobrador’ aqui no Brasil, referente a empresas de ônibus (não só na nossa Região Metropolitana, mas em todo o país). Os avanços foram ocorreram discretos e paulatinamente: compras de veículos ‘micrão’ para linhas de menores demanda; implantação da bilhetagem eletrônica; facilidades de integração com a bilhetagem eletrônica, etc. e, de repente, deixamos de ver o cobrador em grande parcela dos ônibus – de grande porte mesmo, e que circulam em regiões com expressiva demanda. Não acho que possamos atribuir o desfalque aos sindicados, por exemplo. É uma tendência, como coloquei, e por mais que tenha algum leitor acompanhando este texto que insista na ideia de que ‘no meu estado/na minha cidade não! Aqui sempre iremos ter cobrador por N motivos’, lamento ser o portador dessa triste informação, mas saiba que a extinção do cobrador um dia também chegará a sua cidade/seu estado – tanto é que eu próprio desconheço um estado em que empresas não tenham, pelo menos, veículos ‘micrões’.
Pois muito bem! Diante desta nova realidade, assim podendo ser considerada, há um sistema que se destaca. Eu mesmo resolvi aborda-lo aqui no texto porque, uma vez sendo de outro estado e me admirei pelo pouco que vi, considero que pode ser um exemplo a ser seguido em todo Brasil, e sendo a bilhetagem eletrônica algo relativamente novo, todas as empresas estão dando seus passos igualmente – passos falsos ou não. Confesso-lhes que não conheço Joinville – quero ir lá, de preferência, quando eu puder acompanhar a produção de ônibus da montadora Busscar adquiridos por alguma empresa aqui de Natal. Sonhos a parte, acho que o fato de não conhecer o sistema na prática me chamou atenção pela sua agilidade, mas não conhecer me impede de abordar o sistema com clareza. Para tanto, eu conversei com Romney Weasley e Thayná Borba, especialistas em ônibus de Joinville. O sistema de Joinville, ao nível de linhas é teoricamente comum – é o sistema tronco-alimentador; Linhas circulares de micro regiões que alimentam linhas ‘troncais’, além do suporte de linhas ‘perimentais’. A atração está na parte operacional da bilhetagem: “As passagens são divididas em antecipadas e embarcadas (vendidas pelo motorista)”, explica Romney. Ou seja, é aquela ideia posta em prática que muito se comenta aqui em Natal: O desuso do pagamento em espécie no ônibus.
Para tanto, há a ‘bilhetagem descartável’, “que é um cartão – uma unidade, duas unidades e 10 unidades -, que é comprado em centenas de pontos de vendas espalhados pela cidade – panificadoras, supermercados, comércio em geral -”, relata Romney. Cada ‘unidade’ corresponde à quantidade de tarifas que poderão ser usadas; “quando o descartável esgota suas unidades, o validador do ônibus solicita que o usuário o introduza (o cartão) em uma fenda, o sugando posteriormente e só depois libera a catraca.”, complementa Romney. Após o cartão ser ‘sugado’, ele é retirado da fenda na garagem do ônibus, recarregado pela empresa, e colocado novamente no mercado para ser vendido. Há um diferencial de valor da tarifa entre o cartão eletrônico e a tarifa em espécie. A tarifa antecipada, no cartão eletrônico, custa R$ 2,75; E à vista, em espécie, custa R$ 3,10. Romney alerta em relação ao uso pelos usuários: “a passagem embarcada ainda existe, mas é pouco utilizada pelos usuários, até porque pagar a mais pra comprar dentro do carro é um pouco salgado”.
Eu questionei, então, como estava fluindo o sistema, que não tem mais cobrador desde 2001. Recebi uma resposta positiva, pois, segundo Romney, a preferência pela passagem antecipada e a integração do sistema nos terminais facilita a agilidade no transporte. Romney faz, inclusive, uma ressalva importante: “Como usuário, bem crítico das falhas no sistema, mas asseguro que o sistema não pena ou é prejudicado pela ausência do cobrador. Pelo contrário!”. Thayná corrobora com ele e diz que os principais problemas estão relacionados à manutenção da frota – algo direcionado às empresas e que, comumente, há em todo o país.
Sistema de bilhetagem dos ônibus de Joinville |
Estações do sistema integrado de Joinville
Joinville tem, notoriamente, um sistema extremamente desenvolvido e principalmente seguro, já no contexto da nova realidade – um modelo mundial de transporte e uma tendência para todo o país. Aguardamos ver as empresas locais – que já deram bons passos – seguindo ideais consagrados, como o de Joinville. Acredito que a questão independe de licitação; é assunto relacionado à estrutura do sistema.
Thiago Martins
Agradecimentos: Romney Weasley e Thayná Borba
Ficou muito legal a reportagem. Vale destacar que temos articulados no sistema, com 4 portas. A ausência do cobrador não causa nenhum transtorno ou dificuldade ao passageiro. Parabéns pela matéria
Parabéns pela matéria,fico ótima.