“Investir no transporte público é a alternativa mundial. Na Europa, nos Estados Unidos, em capitais aqui mesmo no país, como Curitiba. Eles têm transporte público que funciona, e funciona muito bem. Os gestores também devem se preocupar com isso, mas é preciso que, não apenas o poder público invista, mas também os empresários, osbancos, vários outros entes. No caso dos bancos, é preciso que eles invistam. O banco só faz tirar o que é nosso”, ressaltou o coordenador.
Se, contudo, nada sair do papel e nem as obras de mobilidade nem os investimentos no transporte público seja posto em prática, resta recorrer ao básico: o bom senso e atenção às leis de trânsito. “Baixar juros e aumentar a oferta de crédito é fatal para o ouvido do contribuinte. Ele vai lá e compra mesmo seu carro. Numa cidade superlotada de carros, a dica é sempre sair bem de casa em seu veículo e procurar respeitar o próximo, atendendo rigorosamente à sinalização de trânsito”, diz Marcelo. Ele defende que o consumidor faça uma reflexão antes de comprar um carro novo, e não se iluda com tantas vantagens para adquirí-lo, como a redução do imposto. “Carro não é só uma nova prestação que dobra o orçamento familiar. Há os gastos com combustível e manutenção do veículo. Ou seja, a prestação se multiplica por dois”.
Os engarrafamentos do futuro: Uma cidade com quase 400 mil carros circulando numa área com os mesmos 170 km2 que existem atualmente. Assim será Natal no ano da Copa do Mundo, em 2014, se confirmadas as previsões de aumento da frota da capital. A previsão mais precisa é de que estejam em circulação 395.532 veículos em dois anos. E trata-se de uma frota nova, com até quatro anos de uso. Os dados foram levantados pelo setor de estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RN), a pedido de O Poti/Diário de Natal. Segundo o levantamento, a evolução segue uma média de 8% a cada ano. Atualmente Natal tem 346.448 veículos circulando nas ruas. Com o incremento, os problemas de trânsito e engarrafamento tendem a aumentar se as obras de mobilidade urbana previstas para a Copa não saírem do papel, como prevêem os pessimistas.
Outro fator que põe tempero à mistura e engrossam o caldo da mobilidade é o incentivo dado pelo governo federal na terceira semana de maio, um pacote de medidaspara estimular o crédito no país. Entre elas, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para compra de carros, além da diminuição do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) para todas as operações de crédito de pessoas físicas de 2,5% para 1,5% ao ano. A redução do IPI vale até 31 de agosto. Ou seja, as pessoas terão mais dinheiro para poder seu carro novo, e devem procurar mais o setor de registro de veículos do Detran, como ocorreu nas últimas semanas. Portanto, não é errôneo prever também que quem quiser assistir os jogos da Copa 2014 na Arena das Dunas terá que sair com muita antecedência de casa ou do hotel em que o turista esteja hospedado.
A cada mês são entre seis e sete mil veículos novos registrados no Rio Grande do Norte. Desse total, aproximadamente três mil são motocicletas. O Detran espera que, como em 2008, haja um incremento de 8% a mais no emplacamento de veículos novos. “É um incremento muito alto para um Estado pequeno. Essas medidas financeiras dão um estímulo muito grande para a aquisição de um veículo novo. Para nosso país, isso não é bom. Tem efeitos colaterais”, afirma Marcelo Galvão, coordenador de registro de veículos do Detran-RN. Na última vez em que o governo fez redução de IPI, o Detran-RN chegou a registrar 11 mil veículos em um único mês.
Como consequência do aumento da frota, o resultado são cidades cada vez mais pressionadas, sem a devida infraestrutura. “Isso não ocorre apenas em Natal. O impacto acontece em todas as grandes cidades do país. As concessionárias financiam com prazos a perder de vista e oferecem taxas mais baratas. São grandes atrativos. Montadoras do mundo inteiro lançam novos modelos anualmente, que são grandes atrativos para os consumidores. Além disso, há o aumento do número de motocicletas. Se vendem muitas motocicletas e isso invariavelmente aumenta o número de acidentes”, completa Galvão. “A infraestrutura não chega na mesma velocidade que a venda de veículos”.
Com o advento da Copa, o coordenador opina que o mundial é o momento mais oportuno para que a capital mude radicalmente seu trânsito. “Sabemos que é preciso uma engenharia de trânsito muito bem pensada para que a Copa do Mundo deixe um fruto aqui no Rio Grande do Norte. É a mobilidade urbana de que tanto se fala”. Se as obras não saírem, é preciso encontrar outras saídas. “Se não sairem essas obras, nós vamos estar numa cidade pequena com o mesmo problema que São Paulo tem hoje. Ou seja, com uma dificuldade imensa no trânsito, com engarrafamentos a toda hora do dia”.
Com informações: Diário de Natal