A terceira porta é uma das maiores evoluções do sistema de transporte de Natal. As três portas foram usadas, principalmente, durante a década de 90 em ônibus maiores, mas justamente com as transformações sociais da época, as compras dos ônibus passaram a ser feitas de veículos com duas portas. O cenário começou a mudar no ano de 2009, quando as empresas Cidade do Natal, Via Sul e Reunidas fizeram uma compra conjunta de ônibus três eixos com três portas – certamente por conta do longo tamanho dos veículos.
Em toda a história do transporte coletivo de Natal, duas mudanças relacionadas a isso são extramente significantes: A mudança no fluxo ENTRADA – SAÍDA que passou a ter o embarque na porta da frente e desembarque na porta traseira, em meados de 1993 (Até então o embarque era feito pela porta traseira e o desembarque pela porta frontal); E, em 2007, a mudança no desembarque dos veículos que passou a ser pelo meio do ônibus. Esta foi à errônea mudança que reflete até hoje para empresas e usuários. Para usuários, uma aglomeração de pessoas na região próxima a porta de saída, praticamente impedindo a passagem de outros usuários que embarcam quando o ônibus já está relativamente cheio; Para o empresário, os atrasos nas viagens por, devido a grande aglomeração de pessoas na região frontal do veículo, a locomoção dos novos usuários ser praticamente nula e o ônibus tender a ficar mais tempo na parada com as pessoas querendo embarcar, sem sucesso.
Mas o principal problema, porém, que eu considero, é o sobrepeso na região frontal do veículo. Notoriamente o eixo traseiro é preparado para suportar uma quantidade maior de peso; São quatro pneus contra dois do eixo frontal. Com o peso concentrado praticamente em cima do eixo da frente dos ônibus, a falta de resistência faz com que o ônibus tenda a se rebaixar para frente, danificando o chassi.
A mudança no desembarque tem uma explicação: Idosos. Em nosso sistema, maiores de 65 anos devem mostrar a carteira de identidade ao motorista e embarcar pela porta traseira. Devido à distância, tentativa de comodidade e, ao mesmo tempo, um alto índice de idosos que não cumpriam seu dever de ir até a frente do veículo mostrar suas identidades ao motorista, muitos eram ‘imprensados’ pela porta traseira dos ônibus; Ao esperar os usuários desembarcarem, o idoso subia por trás mas não alertava o motorista. O motorista, por sua vez sem saber que alguém iria embarcar, fechava a porta, e o idoso, naquele momento, era imprensado. A ideia de passar o desembarque para o meio do veículo foi ótima; Ainda que o idoso fosse teimoso em não ir até a porta frontal alertar o motorista, ele veria se alguém iria embarcar com mais facilidade pelo retrovisor.
O sistema praticamente se voltou para os idosos e não levou em consideração os problemas da aglomeração no meio dos ônibus e o quanto isso seria prejudicial. Ou, se considerou, imaginou que haveria a mudança na cultura da população em procurar os assentos mais ao fundo dos veículos, deixando de lado a proximidade da porta de saída. Engano total!
Atualmente as empresas voltaram a utilizar os veículos com três portas (como já falei), mas não houve uma organização plena e atenção para o fundamental: Se o desembarque foi levado para o meio do veículo considerando o embarque de idosos, com as três portas o embarque é feito pela porta traseira; Ou seja, voltamos para o mesmo problema de onde saímos; Aliás, piorado! Os assentos preferenciais ainda estão nas proximidades do meio do ônibus (supostamente devido à proximidade do espaço para cadeirante); Mas tais assentos são – como o próprio nome diz – preferenciais e levam em consideração que idosos são os mais transportados pelos ônibus. De fato, são!
Não acho que a principal discussão seja o embarque. É a acessibilidade. É notório o quanto é difícil para um idoso ter que embarcar pela porta da frente, passar pela catraca e se locomover por todo o ônibus até chegar a um assento próximo da porta de saída com o veículo em movimento – imaginem em um ônibus com três portas, até mesmo veículos articulados, com a saída pela porta traseira, cheio, em um horário de pico. O contrafluxo no embarque de idosos só é válido quando o embarque é feito pela porta traseira e o desembarque pela dianteira, como nas capitais próximas de João Pessoa e Fortaleza. Assim, é fácil o motorista notar o embarque dos idosos, mas isso esbarraria no retrocesso que seria voltar a embarcar pela porta traseira.
Com as tantas mudanças a qual estamos prestes a passar, aguardamos ansiosos uma melhor estruturação sobre essas questões. Não um sol tapado pela peneira, como a Prefeitura fez, sugerindo novamente o embarque dos idosos pela frente – visto que, como já falei, é complicado o deslocamento ao longo do ônibus. A aguardar!
Thiago Martins