Vivemos na última semana uma experiência única: Uma grande cidade sem ônibus. Com a greve iniciada na capital na última segunda, cem por cento da frota ficou parada nas garagens – os que ‘se atreveram’ a ir às ruas, foram obrigados a voltar para as garagens. A maior greve de ônibus dos últimos tempos refletiu diretamente na vida da população: O comércio enfraqueceu, aulas foram suspensas e a dificuldade de deslocamento na cidade foi extremamente significativa.
O senso de justiça é até agora questionado; Vilões? Quem? Os rodoviários que reivindicavam o aumento salarial deles? Ou os empresários que não concediam este aumento? Mas os empresários diziam não ter condições, em razão da tarifa desazada. Por isso pediram – de diversas formas, até mesmo judicialmente – o aumento da tarifa. A prefeita disse não! A prefeita, então, é a vilã? Os ‘micarlistas’ de plantão nas redes sociais estão até agora fazendo muito da ‘prefeita mais corajosa do país!’. Só ela teve essa coragem. Nenhum outro – da região metropolitana mesmo – também disse que não queria o aumento da tarifa (como se tais municípios não dependessem de Natal para tal). Mais que isso, apontam que personagens e entidades que apoiam o aumento tarifário são ligados a grupos políticos rivais.
Talvez a prefeita não seja vilã também no aumento dos combustíveis, dos juros – motivados pela crise financeira que o mundo vive; Mas é, com certeza, em não procurar estruturar uma redução de impostos, incentivos fiscais, etc. Montou-se um aparato, uma legião. Algo nunca visto antes. Cada segmento lutando contra o outro, implicitamente, respaldados pelos seus argumentos. Análises e calorosas discussões têm sido feitas – principalmente por intelectuais esquerdistas. Fala-se no aguardo (ansioso) do anúncio do aumento da tarifa de Natal, e o eco de como esta situação teria sido não outra coisa, mas um dos maiores conchavos da história do Rio Grande do Norte. Por qual motivo, razão ou circunstância um grupo de trabalhadores não poderia, simplesmente, reivindicar seus direitos? (Apesar de seus pesares, que fique bem claro! O quebra-quebra de ônibus e a paralisação total do sistema não foi nada interessante! Excessos absurdos!).
Nossa experiência – única, como já dita – trouxe uma sensação abusivamente nostálgica; O retorno das grandes greves. Referente aos anos 70, por exemplo. Uma classe trabalhadora unida, fixada em um líder. Isso junto ao abandono que havia na cidade, trazendo ai o sentimento de uma época em que se locomover era, de fato, difícil. A reflexão do momento leva a convicção de essencialidade do transporte urbano em meio a trabalhadores do setor que reivindicam melhores condições de trabalho, empresários que alegam necessidade em ter aumento de tarifa e situação política que não permite a modificação da ‘máquina natalense’. A certeza, de qualquer maneira, não é relacionada ao vilão. Este, talvez, nem a melhor das minuciosas investigações descobrirá. A certeza está na iniquidade a qual o povo está submetido. Ficar sem o serviço crucial de transporte, em pleno corre-corre da vida cotidiana.
Quem ganhou a briga, afinal? Até agora ninguém! Os rodoviários não conseguiram o aumento salarial pretendido; Os empresários não conseguiram redução de impostos ou aumento de tarifa; E a prefeita… A prefeita, mesmo com todo marketing forçado e sectários nas redes sociais, não conseguiu aumento de sua popularidade. É… Ônibus podem até não parar 24 horas, mas param uma cidade!
Thiago Martins