O passageiro do sistema de transporte de massa em Natal vai enfrentrar dificuldades a partir do começo desta semana, com a aprovação do indicativo de duas greves – a dos motoristas e cobradores de ônibus e a dos funcionários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que operam o transporte ferroviário e transportam, atualmente, devido o número de viagens ter sido reduzido à metade, cerca de quatro mil pessoas por dia em duas linhas – Natal/Ceará-Mirim e Natal/Parnamirim, e vice-versa. A decisão foi ontem pela manhã.
A greve do sistema de transporte coletivo de Natal, que é operado por sete empresas de ônibus, como permissionárias, começa logo na segunda-feira, dia 14. Já os ferroviários paralisam os serviços a partir da meia-noite da terça-feira, dia 15, depois que a direção da CBTU anunciou que não dará nenhum reajuste salarial à categoria, cuja data base é coincidente com a dos motoristas, cobradores, mecânicos e despachantes de ônibus: 1º de maio.
Com isso, outros cerca de 450 mil passageiros usam ônibus para se locomover, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), deverão ficar sem transporte coletivo, caso os motoristas de ônibus não coloquem em circulação a frota mínima de 30%, como manda a lei de greve.
O chefe do setor de comunicação social da CBTU em Natal, Raphael Albuquerque, confirmou que o transporte ferroviário já vem funcionando precariamente, pois das 24 viagens normais, esse número ficou reduzido pela metade porque das duas locomotivas existentes, uma está em manutenção e só deverá sair da oficina dentro de 45 dias. O número usuários/dia do trem urbano já chegou a ser de oito mil passageiros.
Com a greve dos ferroviários, Albuquerque disse que “espera-se a categoria garanta pelo menos 30% dos serviços, ou seja, sete viagens do trem urbano por dia” para as duas linhas. Segundo Albuquerque, quando ocorria uma greve de ônibus, geralmente era acrescido um vagão à locomotiva, que opera com quatro vagões. O que seria uma alternativa para os usuários do transporte de massa, que pagam apenas R$ 0,50 pela passagem do trem, agora vai se tornar uma dor-de-cabeça para quem pretende se deslocar para o trabalho ou deixar o filho na escola.
Opcionais e taxistas podem fazer mesmo trajeto dos ônibus: Para diminuir os transtornos causados pela paralisação do sistema de transporte coletivo, a prefeita de Natal, Micarla de Sousa, determinou à Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) que autorize os transportes alternativos, taxistas e até veículos particulares, como ônibus, devidamente cadastrados na Semob, a circularem no mesmo percurso do sistema convencional de transporte coletivo.
A autorização da prefeita para dar alternativas aos usuários do sistema de transporte coletivo, veio com o anúncio dela de que não vai autorizar qualquer reajuste nas tarifas dos transportes urbanos da capital.
Já o diretor de Comunicação das empresas de ônibus, Augusto Maranhão, lembrou que em 2011, já havia sido dado um reajuste salarial aos motoristas e cobradores sem que isso fosse repassado à tarifa de transportes. Ele defende que, na falta de um índice de reajuste do preço da passagem inteira de ônibus, que custa R$ 2,20 – o município fizesse uma “compensação tributária” – para reduzir os prejuízos das empresas de ônibus.
Maranhão ressalta que ao contrário de outros programas governamentais, como o do Leite, o setor de transportes é o único que não conta com subsídio nenhum e todos os custos são bancados pelos usuários.
O secretário municipal de Mobilidade Urbana, Márcio Sá, ainda não anunciou, mas que em virtude da greve, serão adotadas medidas, para evitar que as ruas e avenidas da capital sejam interditadas pelos grevistas: “Tomaremos várias medidas para que não haja prejuízo para população natalense”.
Categorias ainda não têm agendas de negociação: Sem sistemas de trens urbanos e transporte coletivo, o deslocamento dos trabalhadores nesta segunda-feira será complicado. As duas greves podem durar por tempo indeterminado, tendo em vista que não há negociações agendas. No caso dos rodoviários, o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município de Natal (Seturn) vai entrar com um pedido de dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), da 21ª Região.
O presidente do Sintro-RN, Nastagnan Batista, informou que os trabalhadores reivindicam reajuste salarial de 14,3%, manutenção do vale-alimentação unificado de R$ 200, além de plano de saúde e melhorias nas condições de trabalho.
O Diretor de Comunicação do Seturn, Augusto Maranhão, disse que as sete empresas de ônibus que operam o serviço de transporte de passageiros, como permissionários, ofereceram a reposição inflacionária de 4,48%, tendo como indexador o INPC, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor.
Augusto Maranhão explicou que na data base de maio de 2011, também houve um acordo de reposição salarial de 6,29%, sem que o reajuste fosse repassado ao usuário do sistema de transporte coletivo, que, com essa greve “termina sendo a maior vítima”.
Maranhão disse, ainda, que o Seturn estava tentando uma intermediação com o procurador regional do Trabalho, Rosivaldo da Cunha Oliveira, mas, em virtude da deflagração da greve, o caso deve ir mesmo para o dissídio coletivo, “esperando-se que o TRT, o mais rápido possível” tenha uma decisão sobre a suspensão da greve.
O diretor do Sintro lamenta que os trabalhadores tenham decidido pela paralisação do serviço, sem que tenham sido “esgotadas as negociações do acordo coletivo de trabalho”, cuja data base só acaba no dia 31 de maio: “Acho que esse processo foi político e não reivindicatório, é como se fosse a festa da posse da diretoria eleita”.
Nastagnan Batista disse que “a proposta não agrada a categoria e por isso foi decido que o indicativo de greve seria mantido. Vamos cruzar os braços a partir da meia-noite de domingo para segunda”.
O sindicalista acusou os empresários de acionarem a Justiça para supostamente reverter acordo feito com a categoria relativo ao vale-alimentação. O impasse, segundo ele, poderá dificulta até a circulação de 30% da frota de ônibus previsto pela lei de greve. Já a greve dos ferroviários é nacional e tem por objetivo lutar contra o suteamento do sistema. A categoria pede 15% de reajuste e locomotivas em condição de tráfego.
Fonte: Tribuna do Norte