O presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (ANTU), Otávio Vieira da Cunha Filho, afirmou que as cidades brasileiras podem parar em 2020 por conta do trânsito. Ele afirmou que, em 1977, 70% dos brasileiros usavam o transporte público. Em 2009, segundo ele, metade da população se deslocava por transporte individual. “Acredito que hoje seja mais de 60% e não sabemos a quanto isso chegará em 2020. Creio que até lá as cidades estarão efetivamente paradas, se alguma coisa não for feita para melhorar essa questão”.
O representante da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Nazareno Afonso, falou sobre o “modelo falido”do transporte rodoviário de carros. “Não tem solução para o automóvel”, afirmou o especialista dizendo que o problema do automóvel deve ser discutido em primeiro lugar em debates sobre política de mobilidade. O especialista falou também sobre a necessidade de investimentos em frotas de ônibus e no aumento de demanda sobre trilhos, o transporte metroferroviário.
Ernesto Pereira Galindo, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também reiterou a importância de investimentos no transporte público. “Mesmo melhorando a tecnologia do transporte individual, ele não consegue atingir certos pontos das cidades. O foco da ação tem que ser na restrição do uso do transporte motorizado individual e na melhoria do transporte público”, afirmou.
“À medida que as cidades vão saturando o trânsito, as velocidades dos meios de transporte são menores e há uma tendência de diminuir o número de acidentes graves”, afirmou o especialista que acredita que o transporte individual tem relação forte com acidentes de trânsito.
Acidentes: De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran), os acidentes de trabalho relativos ao trajeto aumentaram em 57% de 2004 para 2010, disse o representante do Ipea, Ernesto Pereira Galindo.
O presidente da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, disse que “nós vivemos um massacre urbano” devido ao alto número de acidentes de trânsito. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o número total de mortes no trânsito em 2011 foi de 8.660.
Bicicleta: O presidente da ONG Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, defendeu ainda atitudes que possam melhorar a infraestrutura de apoio ao ciclista. “[É preciso] investir de forma moderna, investir nas pessoas e não nos carros”.
Segundo ele, as cidades estão “sufocadas pelo transporte individual motorizado e pelo sucateamento do transporte público”. A melhor cidade para se viver, de acordo com o presidente da Rodas da Paz, é a que valorize a bicicleta. “São inúmeros benefícios à saúde, é um meio de transporte econômico, prático”.
Metrô: O secretário-geral da Federação Nacional dos Metroviários, Luciano Soares Costa, falou sobre a situação do trabalhador metroferroviário. O secretário defendeu a não criminalização dos profissionais e mencionou a greve dos trabalhadores metroviários do DF que começou em dezembro do ano passado e durou 37 dias.
O secretário-geral fez apelo para a regularização da profissão do metroferroviário. “O trabalhador perde muito em benefícios. A desvalorização da profissão metroferroviária é um problema sério para a perda na qualidade na prestação de serviço”.
Motocicleta: Luiz Carlos, presidente do Sindicato dos Mototaxistas (Sindimototaxi), reiterou a importância de políticas para que mototaxistas sejam reconhecidos como trabalhadores e não como “cachorros-loucos” no trânsito.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirmou que “nós temos que mudar a mentalidade” sobre os meios de transporte. “Temos que pensar que progresso não é um número maior de carros, progresso é um tempo menor perdido em deslocamento no trânsito”.
“É sobretudo uma questão de educação. Nós precisamos educar o Brasil para um novo conceito de progresso e desenvolvimento”, concluiu o senador.