Mas por volta de 1938, quando Chico tinha 7 anos de idade aproximadamente, a família sofreu um abalo financeiro. A frota de ônibus de seu pai pegou fogo. O incêndio destruiu todo o patrimônio de Francisco Anysio, o pai. Em seu site, Chico Abnysio declarou já há alguns anos, sobre o incêndio dos ônibus do pai que o fato mudou a vida da família repentinamente: “Um dia a garagem dos ônibus pegou fogo. Não havia seguro. Acordamos pobres. Eu não sabia de nada. Nem da bastança anterior nem da penúria que viria”.
No entanto, como batalhadores, ninguém da família quis desistir de lutar, apesar, claro, do abalo. O pai continuou no Ceará. Não ficou no ramo de ônibus, mas continuou trabalhando com transportes, como construtor de estradas.
Chico, com a mãe, dona Haydée, e mais três irmãos, mudou-se para o Rio de Janeiro, logo depois do incêndio na garagem de ônibus. Chico Anysio tinha 08 anos de idade. Logo se matriculou em bons colégios e aos 16 anos teve de se alistar no exército. É que sua certidão de nascimento tinha o registro de que ele nascera dois anos antes da data real, em 1929.
Chico estudou para ser advogado, quis ser jogador de futebol, mas se enveredou na vida artística como se fosse realmente uma força maior que determinasse. Em um dos dias de partida de futebol, esqueceu-se da chuteira e passou em casa. A irmã Lupe e um amigo iriam fazer um teste na Rádio Guanabara. Chico decidiu acompanhá-los e passou nos testes que nem havia marcado. O primeiro colocado, no entanto, foi Silvio Santos.
O rádio sempre foi o grande veículo de massa no Brasil. As programações de humor, musicais, shows, auditórios e noticiários tinham como palcos os estúdios das rádios brasileiras. A rádio desvendava talentos e não produzia. E foi em 1952, na Rádio Mayrink Veiga que foi criada a Escolinha do Professor Raimundo.
O sucesso nas rádios chamou a atenção da TV, ainda nova no País. Chico Anysio passou pela TV Rio, onde nasceu o Chico Anysio Show, pela TV Excelsior, TV Tupi e TV Record, até ser contratado pela TV Globo em 1968. Sua maestria não se limitou a bons personagens. Ele tinha bons textos, enxergava talentos e os revelava. Chico trabalhou com Paulo Gracindo, Grande Otelo, Costinha, Walter D’Ávila, Jô Soares, Renato Corte Real, Agildo Ribeiro, Ivon Curi, José Vasconcellos.
O humorista tinha também uma visão política bem apurada. Tanto é que em plena Ditadura Militar conseguia com humor fazer críticas ao regime. Chico também intermediou o exílio de Caetano Veloso em Londres. Caetano e Gilberto Gil tinham sido presos dias depois da decretação do AI 5 – Ato Institucional número 5, da Ditadura Militar, um dos mais severos. Dois anos depois de Caetano estar exilado, foi Chico que escreveu a carta recomendando que o cantor voltasse.
Além de todo o talento para o humor, Chico também era pintor e fazia quadros relacionados ao cotidiano. Participou também de diversos filmes.
Chico Anysio casou-se diversas vezes. Suas esposas foram Nancy Wanderley, Rose Rondelli, Regina Chaves, Alcione Mazzeo, ex-Ministra da Economia do governo Collor Zélia Cardoso de Mello e a empresária a Malga Di Paula. O artista teve oito filhos.
Em um documentário exibido pela TV Brasil, Chico Anysio disse que nunca teve vocação para o ramo do pai: transportar, mas que reconhece que foi por ele que sua família se manteve e depois teve oportunidade de mudar de vida, mesmo com o fato triste do incêndio da garagem de ônibus de Francisco Anysio.
Mesmo não sendo transportador, Chico Anysio conseguia transportar. Ele levava um sorriso aos lábios e principalmente ao coração dos brasileiros, cuja realidade ele representava tão bem com seus personagens e seus textos.
Por Adamo Bazani
Fonte: Ônibus Brasil