No meio desse caminho, entra gente de todo o tipo. “Olá Bom Dia” – coisa rara de se escutar hoje em dia. “Droga, essa porcaria de ônibus demorou hein” – isso é mais comum. Com um veículo de 10 metros, 12,5 metros, 13, 2 metros, 15 metros, 18 metros ou até 28 metros, tem de fazer manobras em locais apertados. E ninguém dá a vez. Motoqueiro então parece que tem um imã ligado à lataria. É o gigante de metal tentar abrir um pouco para uma curva, que colam umas quatro ou cinco motocicletas no espaço para o veículo conseguir entrar no lugar que precisa.
Atenção em tudo. No que se passa dentro e fora. Chega o horário de pico, é o trânsito. Faltam 20 minutos para chegar ao ponto final, se não tivesse o congestionamento, mas o veículo não fez sequer 1/5 de sua viagem.
Não dá para correr. O passageiro não pode ser jogado de um lado para o outro (embora que isso vira e mexe literalmente acontece). A lotação é grande. A criança chora. O adulto reclama e agora mais uma novidade: o funkeiro dentro do ambiente coletivo ouve num sonzinho ardido de celular que “quero ser sua cachorra, vem ser o meu dogão”…
Ah sim, outra novidade. Em muitas linhas e nos modelos chamados micros e micrões, o motorista tem de enfrentar tudo isso e ainda cobrar a passagem com o ônibus em movimento. E olha que as tarifas ajudam muito no troco. A pessoa, com todo o direito que tem, vem com uma nota de R$ 20,00 para pagar uma passagem de R$ 3,15! Além de prestar atenção no motoqueiro, nos demais veículos, engatar as marchas, ver os retrovisores, ouvir funk, cadê a moedinha de R$ 0,05 para o troco?
É, por mais que eles não sejam bem vistos no trânsito, e muitos abusam mesmo, vida de motorista de ônibus não é fácil. Tudo isso reflete diretamente na saúde do profissional. E um novo estudo, divulgado nesta semana, dá mais um dado sobre isso.
O estudo divulgado pelo site Health, especializado em saúde, mostra que os motoristas de ônibus têm mais chance de desenvolverem problemas cardíacos, além de sofrerem de obesidade pelo sedentarismo da profissão e de colesterol. Os dados revelam que 56% dos motoristas de ônibus avaliados sofrem de hipertensão. Número bem maior que a média de 31% dos outros profissionais. Mas como amenizar estes problemas?
Cada um pode fazer sua parte: várias empresas de ônibus mantém programas de ginástica laboral, academias, exercícios e apoio psicológico aos profissionais. Várias empresas, mas ainda a minoria. Os motoristas também devem ao máximo tentar buscar um bom ambiente. Por mais difícil que seja, se disciplinar para não se irritar com tudo. Motoqueiros e motoristas de outros carros, por mais que o condutor do ônibus esteja errado em algumas situações, deixe para lá, não tente disputar espaço com o bichão, pois pode levar a pior. Passageiros podem ajudar também: atrasou o ônibus? Ligue para a garagem, para a Prefeitura, Estado, Imprensa, não adianta ficar xingando o motorista.
E claro, funkeiros, ouçam seus sons para vocês mesmos. Os motoristas de ônibus e o mundo agradecem. Deixar o trânsito em plena paz e a profissão de motorista de ônibus urbano completamente isenta de irritações é impossível, mas dá para melhorar bastante e boa parte da melhora vem pela educação e bom trato de todos.