Saúde: 56% dos motoristas de ônibus têm hipertensão

Imagine a rotina. Você chega ao seu local de trabalho às 03h40 da manhã (horário em que muita gente está indo dormir). Recebe uma ficha para preencher, verifica as condições de pneus, portas, dá uma geral, e senta ao volante de um gigante. Sai da garagem e já tem hora para chegar ao ponto final. Faz várias vezes o mesmo caminho por dia, muitas outras vezes por mês e centenas de vezes por ano.

No meio desse caminho, entra gente de todo o tipo. “Olá Bom Dia” – coisa rara de se escutar hoje em dia. “Droga, essa porcaria de ônibus demorou hein” – isso é mais comum. Com um veículo de 10 metros, 12,5 metros, 13, 2 metros, 15 metros, 18 metros ou até 28 metros, tem de fazer manobras em locais apertados. E ninguém dá a vez. Motoqueiro então parece que tem um imã ligado à lataria. É o gigante de metal tentar abrir um pouco para uma curva, que colam umas quatro ou cinco motocicletas no espaço para o veículo conseguir entrar no lugar que precisa.

Atenção em tudo. No que se passa dentro e fora. Chega o horário de pico, é o trânsito. Faltam 20 minutos para chegar ao ponto final, se não tivesse o congestionamento, mas o veículo não fez sequer 1/5 de sua viagem.

Não dá para correr. O passageiro não pode ser jogado de um lado para o outro (embora que isso vira e mexe literalmente acontece). A lotação é grande. A criança chora. O adulto reclama e agora mais uma novidade: o funkeiro dentro do ambiente coletivo ouve num sonzinho ardido de celular que “quero ser sua cachorra, vem ser o meu dogão”…

Ah sim, outra novidade. Em muitas linhas e nos modelos chamados micros e micrões, o motorista tem de enfrentar tudo isso e ainda cobrar a passagem com o ônibus em movimento. E olha que as tarifas ajudam muito no troco. A pessoa, com todo o direito que tem, vem com uma nota de R$ 20,00 para pagar uma passagem de R$ 3,15! Além de prestar atenção no motoqueiro, nos demais veículos, engatar as marchas, ver os retrovisores, ouvir funk, cadê a moedinha de R$ 0,05 para o troco?

É, por mais que eles não sejam bem vistos no trânsito, e muitos abusam mesmo, vida de motorista de ônibus não é fácil. Tudo isso reflete diretamente na saúde do profissional. E um novo estudo, divulgado nesta semana, dá mais um dado sobre isso.

O estudo divulgado pelo site Health, especializado em saúde, mostra que os motoristas de ônibus têm mais chance de desenvolverem problemas cardíacos, além de sofrerem de obesidade pelo sedentarismo da profissão e de colesterol. Os dados revelam que 56% dos motoristas de ônibus avaliados sofrem de hipertensão. Número bem maior que a média de 31% dos outros profissionais. Mas como amenizar estes problemas?

Cada um pode fazer sua parte: várias empresas de ônibus mantém programas de ginástica laboral, academias, exercícios e apoio psicológico aos profissionais. Várias empresas, mas ainda a minoria. Os motoristas também devem ao máximo tentar buscar um bom ambiente. Por mais difícil que seja, se disciplinar para não se irritar com tudo. Motoqueiros e motoristas de outros carros, por mais que o condutor do ônibus esteja errado em algumas situações, deixe para lá, não tente disputar espaço com o bichão, pois pode levar a pior. Passageiros podem ajudar também: atrasou o ônibus? Ligue para a garagem, para a Prefeitura, Estado, Imprensa, não adianta ficar xingando o motorista.

E claro, funkeiros, ouçam seus sons para vocês mesmos. Os motoristas de ônibus e o mundo agradecem. Deixar o trânsito em plena paz e a profissão de motorista de ônibus urbano completamente isenta de irritações é impossível, mas dá para melhorar bastante e boa parte da melhora vem pela educação e bom trato de todos.

Por Adamo Bazani

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